segunda-feira, 26 de março de 2012

O desafio de recomeçar

Por Marcelo Veras*

Há uma semana recebi um e-mail de um amigo me convidando para uma festa de despedida. Ele, esposa e filho estão de mudança para outro país, já que ele está migrando (literalmente) para uma nova empresa. Um fato normal e corriqueiro, mas que me chamou a atenção porque, coincidentemente, muita gente próxima anda passando por momento de mudanças. Uns, mudando de empresa. Outros, mudando de cidade. Outros, mudando de estado civil. Alguns, inclusive, mudando de tudo. Eu mesmo me forneci uma bela chacoalhada na minha vida nos últimos meses. E ainda sinto aquele sintoma com o qual estou bem acostumado – o friozinho na barriga que costuma agir como um alarme interrogativo: - Tem certeza do que está fazendo? Vai encarar mesmo?

Recentemente, conheci um sujeito em Lisboa, onde estive no Desafio Internacional de Inovação da ESAMC, que cai muito bem como exemplo. Chama-se Marcos. Cara experiente, com mais de 20 anos de estrada como empresário, atuante em vários setores e que, recentemente, deu um salto arriscado como sócio investidor em um negócio que, segundo ele, entendia pouco ou quase nada. Reconheci nele alguns dos meus sintomas: o desafio de aprender algo novo, de navegar em outros mares. Esse é o ponto: novas emoções!

Em certo momento, durante a conversa, eu estava lhe contando da minha recente mudança profissional e do meu novo negócio e acabei usando a seguinte frase: - Agora ou vai, ou vai! Foi interessante, pois ele me soltou: - Gajo (um termo usado em Lisboa para dizer cara), vai! E seguiu falando: - Sabe, no mundo há um grupo de pessoas (90% da população, na verdade) que quer calma, paz e tranquilidade. E que não estão dispostas a verem seus pescoços na forca nunca e nem por nada! Não há nada de errado nisso! Aliás, a imensa maioria das pessoas é assim. E há um grupo (os outros 10%) que é inquieto, que se cansa facilmente da tranquilidade, que sempre está em busca de um projeto, um sonho, uma oportunidade de causar algo novo. Estas pessoas são as que não dormem, são as que têm preocupações e medos, mas são as que empreendem e que, no fim, acabam erguendo algo de valor. São aquelas que arriscam, ganham, perdem, caem, se machucam e que estão sempre com o ponteiro no vermelho.

Este discurso me fez reviver o desafio do recomeço. Sim, recomeço, porque ao mudar, seja lá no que for, nós temos que provar de novo, para nós e para quem nos cerca, que somos capazes. Capazes de aprender, de fazer… De recomeçar. Um bom exemplo é uma troca de empresa, coisa que fiz algumas vezes. Ao sair de uma, a gente deixa uma marca, uma imagem, resultados concretos, projetos concluídos, competências reconhecidas, relacionamentos estabelecidos. Ao chegar à seguinte, nada disso serve mais. No máximo, serviu para abrir aquela porta. E só! Acabou-se a sua zona de conforto! Você pode até chegar com boas credenciais, mas todos que estão lá lhe olharão como se dissessem: - Agora nos mostre o que é capaz de fazer. Faça a sua mágica, querido! Impressione-me!

Pois é: recomeços, quase do zero, são difíceis. Mas esta é a vitamina dos empreendedores. É esta adrenalina que faz a vida ser interessante para estas pessoas. O desafio de recomeçar. O desafio de provar para todos e, principalmente para si mesmo, que é possível se reinventar, construir algo novo e aprender coisas novas.

Para fechar a conversa, o Marcos, ainda completou: - Assim que consigo entender um negócio e fazer a empresa dar dinheiro e se estabilizar, me dá logo vontade de vender para começar outra do zero!

Você pode estar pensando: - Que gente estranha! E o pior que você está certo. Mas o mundo seria bem chato e menos próspero sem estes loucos.

*Professor de Marketing, Estratégia e Planejamento de Carreira no MBA da ESAMC.

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