O brasileiro se acostumou a pagar juros altos. Durante muito tempo
estivemos entre os países com maiores taxas de juros do mundo. Essa
realidade começou a mudar no segundo trimestre de 2012. Ainda estamos
longe do ideal, mas a queda contínua dos juros é, sem dúvida, uma
notícia promissora.
Quando abriu a guerra contra os juros altos, o governo federal acusou
os bancos de praticarem taxas elevadas sem uma justificativa plausível,
por pura ganância. A causa é meritória, mas a acusação é apenas em parte
verdadeira.
Para entender, a taxa de juros cobrada dos clientes engloba os custos de captação do dinheiro pelos bancos mais o chamado spread bancário.
Um exemplo nos ajudará a entender. Suponhamos que você tome um
empréstimo no banco e por ele pague todos os meses R$ 100, 00 de juros.
Os juros são decompostos da seguinte forma:
25,5 reais corresponde ao custo de captação dos bancos, aquilo que, em tese eles pagam para os aplicadores:
74,5 reais é referente ao chamado spread bancário.
O spread, por sua vez, é dividido da seguinte forma:
24,4 reais é a margem de lucro dos bancos;
21,40 reais é por conta da inadimplência;
16,30 reais são impostos;
9,40 reais são custos administrativos e
3,00 reais de outros encargos.
Quando o Banco Central baixa a taxa Selic, que é uma espécie de taxa de
referência para o que os Bancos pagam pela captação do dinheiro (CDB),
ele quer reduzir o captação do sistema bancário e, por tabela, reduzir a
taxa final de juros do crédito ao consumidor. O aplicador ganha menos e
o tomador final do empréstimo também.
Três componentes do spread chamam a atenção: o lucro dos bancos, a inadimplência e os impostos. Todos são elevados.
A inadimplência está diretamente relacionada com o risco tomado pelos
bancos na hora de conceder o crédito. Ele é sempre difícil de
estabelecer, pois os bancos sofrem com a chamada assimetria de informações.
Em outras palavras, eles nunca têm informações completas dos clientes,
de tal modo que a concessão do crédito implica sempre em assumir o risco
da inadimplência.
É por esta razão, por exemplo, que as taxas praticadas no crédito
consignado aos servidores públicos são menores, pois os dados dos
clientes são acessíveis e, sobretudo, porque eles possuam renda
garantida pelo Estado (salários e aposentadorias). Em outras
modalidades de crédito, em que os bens podem ser dados como garantia, o
risco dos bancos também tende a ser menor. Não é, entretanto, o que
acontece no crédito do cheque especial ou para a compra de bens de
consumo perecíveis ou de difícil recuperação. Nestes casos, o risco dos
bancos é maior.
Assim, por conta do risco da inadimplência, o spread varia dependendo da modalidade de crédito.
A revista Exame fez um levantamento e constatou a prática das seguintes taxas:
Crédito Imobiliário: 4%
Compra de veículos: 17,5%
Crédito Pessoal: 41%
Cheque Especial: 173%.
O spread cai quando o crédito é direcionado para bens
tangíveis porque o próprio bem funciona como garantia, o que não
acontece no crédito direcionado para o consumo pessoal ou cheque
especial. Nesse caso, o risco do banco é muito maior.
Os impostos, da mesma forma, são muito altos. Uma forma de reduzir os
juros é, claro, reduzir os impostos. Deve-se lembrar, a propósito, que
os bancos devem recolher ao Banco Central, por conta do chamado depósito
compulsório, aproximadamente 40% do total dos depósitos feitos pelos
clientes. É uma forma de dar solidez e garantia para todo o sistema
bancário. Estes recursos, portanto, não podem ser usados para dar
crédito aos seus clientes.
Banqueiros não são anjos nem demônios, são comerciantes. Se o sistema
de regulação e o mercado absorver , eles vão elevar seus lucros até onde
puderem. Aliás, não é esta a lógica do capitalismo? Se você pudesse
fazer o mesmo no seu negócio, qual seria a sua atitude? O ponto é: como
não existe preço “justo” não existe também “lucro justo ou injusto”.
A única forma de coibir abusos dos bancos é aumentar a concorrência.
Divulgar as taxas de juros em todas as operações, promover a educação
dos consumidores, a possibilidade do cliente migrar de um banco para
outro levando seu histórico, o cadastro positivo (dos bons pagadores),
todas são medidas promissoras, mas o mais importante e decisivo é
aumentar a concorrência entre os bancos.
FONTE: AdOnline