sexta-feira, 29 de junho de 2012

Finalmente, a queda dos juros.

O brasileiro se acostumou a pagar juros altos. Durante muito tempo estivemos entre os países com maiores taxas de juros do mundo.  Essa realidade começou a mudar no segundo trimestre de 2012.  Ainda estamos longe do ideal, mas a queda contínua dos juros é, sem dúvida, uma notícia promissora.
Quando abriu a guerra contra os juros altos, o governo federal acusou os bancos de praticarem taxas elevadas sem uma justificativa plausível, por pura ganância. A causa é meritória, mas a acusação é apenas em parte verdadeira.   
Para entender, a taxa de juros cobrada dos clientes engloba os custos de captação do dinheiro pelos bancos mais o chamado spread bancário.
Um exemplo nos ajudará a entender. Suponhamos que você tome um empréstimo no banco e por ele pague todos os meses R$ 100, 00 de juros.
Os juros são decompostos da seguinte forma:
25,5 reais corresponde ao custo de captação dos bancos, aquilo que, em tese eles pagam para os aplicadores:
74,5 reais é referente ao chamado spread bancário.
O spread, por sua vez, é dividido da seguinte forma:
24,4 reais é a margem de lucro dos bancos;
21,40  reais é por conta da inadimplência;
16,30 reais são impostos;
9,40 reais são custos administrativos e
3,00  reais de outros encargos.
Quando o Banco Central baixa a taxa Selic, que é uma espécie de taxa de referência para o que os Bancos pagam pela captação do dinheiro (CDB), ele quer reduzir o captação do sistema bancário e,  por tabela, reduzir a taxa final de juros do crédito ao consumidor.  O aplicador ganha menos e o tomador final do empréstimo também.
Três componentes do spread chamam a atenção: o lucro dos bancos, a inadimplência e os impostos. Todos são elevados.
A inadimplência está diretamente relacionada com o risco tomado pelos bancos na hora de conceder o crédito. Ele é sempre difícil de estabelecer, pois os bancos sofrem com a chamada assimetria de informações. Em outras palavras, eles nunca têm informações completas dos clientes, de tal modo que a concessão do crédito implica sempre em assumir o risco da inadimplência. 
É por esta razão, por exemplo, que as taxas praticadas no crédito consignado aos servidores públicos são menores, pois os dados dos clientes são acessíveis e, sobretudo, porque eles possuam renda garantida pelo Estado (salários e aposentadorias).  Em outras modalidades de crédito, em que os bens podem ser dados como garantia, o risco dos bancos também tende a ser menor. Não é, entretanto, o que acontece no crédito do cheque especial ou para a compra de bens de consumo perecíveis ou de difícil recuperação. Nestes casos, o risco dos bancos é maior.
Assim, por conta do risco da inadimplência, o spread varia dependendo da modalidade de crédito.
A revista Exame fez um levantamento e constatou a prática das seguintes taxas:
Crédito Imobiliário: 4%
Compra de veículos: 17,5%
Crédito Pessoal:  41%
Cheque Especial: 173%.
O spread cai quando o crédito é direcionado para bens tangíveis porque o próprio bem funciona como garantia, o que não acontece no crédito direcionado para o consumo pessoal ou cheque especial. Nesse caso, o risco do banco é muito maior.
Os impostos, da mesma forma, são muito altos. Uma forma de reduzir os juros é, claro, reduzir os impostos.  Deve-se lembrar, a propósito, que os bancos devem recolher ao Banco Central, por conta do chamado depósito compulsório, aproximadamente 40% do total dos depósitos feitos pelos clientes. É uma forma de dar solidez e garantia para todo o sistema bancário.  Estes recursos, portanto, não podem ser usados para dar crédito aos seus clientes. 
Banqueiros não são anjos nem demônios, são comerciantes. Se o sistema de regulação e o mercado absorver , eles vão elevar seus lucros até onde puderem. Aliás, não é esta a lógica do capitalismo? Se você pudesse fazer o mesmo no seu negócio, qual seria a sua atitude?  O ponto é: como não existe preço “justo” não existe também “lucro justo ou injusto”. 
A única forma de coibir abusos dos bancos é aumentar a concorrência. Divulgar as taxas de juros em todas as operações, promover a educação dos consumidores, a possibilidade do cliente migrar de um banco para outro levando seu histórico, o cadastro positivo (dos bons pagadores), todas são medidas promissoras, mas o mais importante e decisivo  é aumentar a concorrência entre os bancos. 

FONTE: AdOnline

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