Tem hora que dá até pena.
Acompanho (de longe) a disputa entre agências de propaganda, por
lotes do edital governamental que regra a concorrência que determina
quais empresas serão responsáveis pela comunicação das instituições
públicas de Santa Catarina.
Dá pena, porque desde as agências mais robustas, até aquelas
pequenininhas, dá a impressão que uma conta “de governo”, meio que salva
a lavoura, paga as contas e dá paz de espírito aos sofridos empresários
do setor.
Já tendo vivido esse calvário ene vezes, entre raciocínios básicos,
estratégias de comunicação e até aquelas cartinhas singelas de clientes
dizendo que a sua é a melhor agência da galáxia, não deixo de pensar que
todo esse processo é anacrônico e estranho.
É que em nome do princípio da impessoalidade e da manutenção de
critérios objetivos de escolha coloca-se no mesmo saco, quem produz
prego e quem produz ideias.
Pregos quase sempre são impessoais e objetivos. Ideias têm lado e podem ser tremendamente subjetivas.
Por conta disso, dá a impressão que todas as agências têm a mesma
chance de vencer a concorrência, mais ou menos, como todas as empresas
que fazem prego.
E fica um monte de agência virando noite, turmas de planejamento,
criação, mídia, todo mundo, criando campanhas de mentirinha, para
problemas de mentirinha e o que é pior, perdendo tempo e dinheiro para
concorrer, perdoem-me a franqueza, em um certame de mentirona.
Por força de uma legislação engessada em alguns aspectos,
infelizmente, ficam, o poder público e um segmento econômico
importantíssimo, como é o das agências de propaganda, encenando um
teatro triste.
E antes que alguém diga que são todos desonestos e corruptos, mesmo,
afirmo aqui, que tanto entre os empresários da comunicação, como entre
os agentes públicos (e conheço muita gente dos dois lados) a imensa, mas
imensa mesma, maioria é de profissionais sérios, bem intencionados.
Acontece que a política, assim como as ideias, tem lado e é subjetiva.
Seria muito mais bacana se houvesse uma verdadeira transparência, e
através de critérios específicos para o setor das ideias, o gestor
público pudesse contratar comunicadores que comunguem com suas ideias de
Estado e de governo. Porque o contrário é parecido com contratar o
Drácula para cuidar do banco de sangue.
Ah, tá bem, bem vindo ao mundo da fantasia. Que bonitinho, nem vai ter farra com dinheiro público, né?
Calma. Lá atrás eu falei em critérios.
E que critérios seriam esses?
Em minha modesta opinião e adoraria que todo mundo entrasse nessa
discussão até para, se for o caso, provar que estou redonda e
quadradamente equivocado, o setor das ideias poderia ter regras
diferenciadas.
Primeiramente, dinheiro público não é para fazer propaganda. É para
fazer publicidade. Publicidade, nesse caso, é tornar pública uma
informação que interessa ao cidadão. O que os governos fazem para
melhorar a sua vida, como fizeram essas coisas, quanto gastaram e quais
foram os resultados. Se o comunicador for competente, pode até
contribuir para a imagem pública do gestor. E isso seria sua melhor
propaganda. Logo, critério na mensagem.
Segundo, controle quanto à concentração da verba, evitando que do
nada, agências desse tamanhinho e com estruturas quase caseiras sejam
contempladas com uma conta imensa ou ainda, que duas ou três agências
dividam todo o bolo e o resto do setor fique chupando o dedo. E isso
vale para os veículos e fornecedores também.
Terceiro, fiscalização. Definidos os critérios, organismos de
controle do Estado e da sociedade civil devem fiscalizar com lente de
aumento as iniciativas de comunicação dos organismos públicos, para que
elas de fato, cumpram a sua função, que afinal de contas, é beneficiar
não o gestor, nem a agência, nem os veículos e fornecedores e sim, o
cidadão.
Vai ter favorecimento político? Ué, não tem hoje? Pelo menos seria transparente. E controlado.
E teria uma consequência interessante.
Muitas vezes vi o grande Washington Olivetto dizer que não faz
propaganda política e nem tem contas de governo. É uma postura. De quem
não quer se comprometer.
Só que o nosso país, nosso estado, nossas cidades estão precisando
que pessoas inteligentes e capazes, como são nossos publicitários, se
comprometam, se envolvam, tenham lado e participem da vida política como
deve ser.
Só na hora de ganhar campanhas eleitorais e concorrências é muito pouco.
Está na hora de deixarmos de fingir que somos politicamente corretos.
E sermos corretamente políticos.
FONTE: Acontecendo Aqui