terça-feira, 24 de julho de 2012

Corretamente político

Tem hora que dá até pena.
Acompanho (de longe) a disputa entre agências de propaganda, por lotes do edital governamental que regra a concorrência que determina quais empresas serão responsáveis pela comunicação das instituições públicas de Santa Catarina.
Dá pena, porque desde as agências mais robustas, até aquelas pequenininhas, dá a impressão que uma conta “de governo”, meio que salva a lavoura, paga as contas e dá paz de espírito aos sofridos empresários do setor.
Já tendo vivido esse calvário ene vezes, entre raciocínios básicos, estratégias de comunicação e até aquelas cartinhas singelas de clientes dizendo que a sua é a melhor agência da galáxia, não deixo de pensar que todo esse processo é anacrônico e estranho.
É que em nome do princípio da impessoalidade e da manutenção de critérios objetivos de escolha coloca-se no mesmo saco, quem produz prego e quem produz ideias.
Pregos quase sempre são impessoais e objetivos. Ideias têm lado e podem ser tremendamente subjetivas.
Por conta disso, dá a impressão que todas as agências têm a mesma chance de vencer a concorrência, mais ou menos, como todas as empresas que fazem prego.
E fica um monte de agência virando noite, turmas de planejamento, criação, mídia, todo mundo, criando campanhas de mentirinha, para problemas de mentirinha e o que é pior, perdendo tempo e dinheiro para concorrer, perdoem-me a franqueza, em um certame de mentirona.
Por força de uma legislação engessada em alguns aspectos, infelizmente, ficam, o poder público e um segmento econômico importantíssimo, como é o das agências de propaganda, encenando um teatro triste.
E antes que alguém diga que são todos desonestos e corruptos, mesmo, afirmo aqui, que tanto entre os empresários da comunicação, como entre os agentes públicos (e conheço muita gente dos dois lados) a imensa, mas imensa mesma, maioria é de profissionais sérios, bem intencionados.
Acontece que a política, assim como as ideias, tem lado e é subjetiva.
Seria muito mais bacana se houvesse uma verdadeira transparência, e através de critérios específicos para o setor das ideias, o gestor público pudesse contratar comunicadores que comunguem com suas ideias de Estado e de governo. Porque o contrário é parecido com contratar o Drácula para cuidar do banco de sangue.
Ah, tá bem, bem vindo ao mundo da fantasia. Que bonitinho, nem vai ter farra com dinheiro público, né?
Calma. Lá atrás eu falei em critérios.
E que critérios seriam esses?
Em minha modesta opinião e adoraria que todo mundo entrasse nessa discussão até para, se for o caso, provar que estou redonda e quadradamente equivocado, o setor das ideias poderia ter regras diferenciadas.
Primeiramente, dinheiro público não é para fazer propaganda. É para fazer publicidade. Publicidade, nesse caso, é tornar pública uma informação que interessa ao cidadão. O que os governos fazem para melhorar a sua vida, como fizeram essas coisas, quanto gastaram e quais foram os resultados. Se o comunicador for competente, pode até contribuir para a imagem pública do gestor. E isso seria sua melhor propaganda. Logo, critério na mensagem.
Segundo, controle quanto à concentração da verba, evitando que do nada, agências desse tamanhinho e com estruturas quase caseiras sejam contempladas com uma conta imensa ou ainda, que duas ou três agências dividam todo o bolo e o resto do setor fique chupando o dedo. E isso vale para os veículos e fornecedores também.
Terceiro, fiscalização. Definidos os critérios, organismos de controle do Estado e da sociedade civil devem fiscalizar com lente de aumento as iniciativas de comunicação dos organismos públicos, para que elas de fato, cumpram a sua função, que afinal de contas, é beneficiar não o gestor, nem a agência, nem os veículos e fornecedores e sim, o cidadão.
Vai ter favorecimento político? Ué, não tem hoje? Pelo menos seria transparente. E controlado.
E teria uma consequência interessante.
Muitas vezes vi o grande Washington Olivetto dizer que não faz propaganda política e nem tem contas de governo. É uma postura. De quem não quer se comprometer.
Só que o nosso país, nosso estado, nossas cidades estão precisando que pessoas inteligentes e capazes, como são nossos publicitários, se comprometam, se envolvam, tenham lado e participem da vida política como deve ser.
Só na hora de ganhar campanhas eleitorais e concorrências é muito pouco.
Está na hora de deixarmos de fingir que somos politicamente corretos.
E sermos corretamente políticos.

FONTE: Acontecendo Aqui

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