quarta-feira, 20 de junho de 2012

Desenvolvimento: a armadilha do curto prazo

Para entender a intervenção governamental no processo de desenvolvimento econômico é útil separá-la em duas modalidades: as ações de curto prazo e as ações de longo prazo.
No longo prazo, conforme já vimos, o desenvolvimento econômico depende da produtividade dos fatores de produção. Isto é, da capacidade do país utilizar de forma eficiente os seguintes fatores de produção: capital físico, capital humano, recursos naturais e conhecimento tecnológico.
A intervenção governamental pode, evidentemente, auxiliar na formação e no melhor aproveitamento desses fatores.  O governo pode adotar políticas que incentivem o aumento da capital físico do país, mediante o incentivo à poupança e redução do custo do capital (juros mais baixos, oferta de crédito e legislação favorável ao investimento produtivo). Pode adotar programas de desenvolvimento científico e tecnológico utilizando instrumentos de financiamento, subsídios e parcerias entre as empresas e instituições técnicas e científicas. Pode executar políticas de melhoria da qualidade da educação e capacitação de mão de obra e, finalmente, favorecer as atividades econômicas que melhor utilizem os recursos naturais do país - terras, clima, e riquezas naturais como minérios e petróleo. 
Essas políticas de longo prazo são as mais eficientes porque permitem aumentar o capital físico e, sobretudo, modificar os fatores que determinam os níveis de produtividade de forma duradoura. 
O sistema institucional é também um fator muito importante para o desenvolvimento no longo prazo. A garantia dos direitos de propriedade, a estabilidade política e a segurança jurídica são fundamentais para  atrair capitais externos e também para diminuir o grau de incerteza presente nas decisões de investimento. Pesquisas mostram que países com maior estabilidade política e segurança jurídica levam vantagem na corrida pelo desenvolvimento.
A cultura predominante poder ser, também, um fator de desenvolvimento econômico, notadamente a forma como compreende o lucro, a poupança e o trabalho. Nas culturas protestantes, conforme explicou Max Weber, o capitalismo parece ter se beneficiado pela crença no trabalho como forma de ascensão social e no lucro como recompensa pelo esforço individual. No Japão moderno, da mesma forma, a disciplina e a preocupação com o futuro parecem ter um papel relevante na formação da poupança nacional. 
No curto prazo, o governo interfere no desenvolvimento econômico através da forma como administra a oferta de moeda, os juros, o crédito, as políticas anti-inflacionárias, de comercio exterior, relações de trabalho e meio ambiente. Os efeitos dessas políticas no crescimento econômico dependem, evidentemente, da qualidade dessas leis, sobretudo, da orientaçao que seguem: se favorecem ou não a atividade empreendedora.
Por exemplo, durante muitos anos o Brasil conviveu com inflação alta, juros elevados e protecionismo, fenômenos que sabidamente travam o crescimento econômico. Ainda que tenhamos tido êxito na solução de alguns desses  entraves, a partir dos anos de 1990, principalmente no controle da inflação, ainda persistem os efeitos negativos dos juros altos, da falta de estrutura de crédito de longo prazo, dos impostos elevados e da legislação trabalhista e ambiental.  
Assim, ainda que um determinado país não possua uma política de industrial específica, por exemplo, a intervenção governamental sempre acaba por interferir no crescimento econômico em geral e na indústria em particular. Isso ocorre porque ao fixar políticas para juros, impostos, crédito, regras de comércio, obrigações trabalhistas e proteção ambiental, o governo está influenciando a formação dos custos de produção e intensidade das trocas na economia, afetando, portanto, as condições da oferta e da concorrência. 
Na medida em que não se pode imaginar a existência de uma economia sem a existência de um quadro institucional que regule o regime de propriedade, os contratos e o comportamento das principais variáveis econômicas, a questão central que se coloca não é mais se devemos ou não ter intervenção governamental, mas em que grau ela deve ocorrer e de como fazê-la de modo a favorecer o desenvolvimento econômico. 
Além de regras que devem nortear o comportamento de variáveis como moeda, crédito e comércio, a maioria dos países desenvolvidos tem políticas, programas e ações específicos para fomentar o desenvolvimento industrial.

FONTE: AdOnline

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