Na semana passada comentei aqui que um dos maiores desafios para fazer
os juros baixos chegarem aos consumidores seria reduzir as taxas
praticadas pelo crédito no varejo e nos cartões. Disse, ainda, que mesmo
depois da queda da taxa Selic, há mais de dois meses, o financiamento
no varejo e nos cartões continuava num nível muito alto.
Tanto isso é verdade, que em matéria publicada no dia 20 de julho no
Estado de São Paulo, jornalista Wladimir D’Andrade mostra que o Brasil
possui a maior taxa de juros no cartão de crédito em comparação com
outros seis países da América Latina, com uma taxa anual de mais de
300% ao ano.
Todos os países lationamericanos usados na comparação – Argentina,
Chile, Colômbia, Peru, Venezuela e México – têm juros significativamente
menores. O maior deles, o Peru, é de 55% ao ano, cinco vezes menos do
que o Brasil.
Diz a matéria: “De acordo com a Proteste (a entidade que fez o
levantamento), os juros cobrados no crédito rotativo são uma das causas
do crescente endividamento dos brasileiros. A taxa média atual está em
12,77% ao mês, o que leva aos juros de 323,14% ao ano. No Chile, o
terceiro país do grupo com maior taxa média, a cobrança chega a 54,24%
ao ano; na Argentina a 50% anuais; no México a 33,8%; na Venezuela a
33%; e na Colômbia a 29,23% ao ano.” Mesmo em países que têm inflação
mais alta do que o Brasil, como é o caso da Venezuela e da Argentina, os
juros são bem menores.
Já mencionei aqui que um dos problemas do alto custo dos juros dos
cartões é a falta de concorrência. A Folha de São Paulo, em editorial
publicado no domingo (22/07) cita um dado revelador: “oduopólio
Cielo-Redecard detém cerca de 90% do mercado de credenciamento de
cartões no Brasil, que engloba o processamento e a liquidação financeira
das transações de crédito e débito das principais bandeiras -Visa e
Mastercard”.
Ainda segundo a Folha, a receita as empresas credenciadores é de
aproximadamente 1,2% do valor na operação de crédito e 0,75% na de
débito. Para se ter uma ideia do custo para o clientes, nos Estados
Unidos, ele gira em torno de 0.4%.
Os bancos que emitem os cartões ganham mais ou menos a mesma coisa,
além dos custos de anuidade dos cartões e ainda o juro do crédito
rotativo. “Trata-se de um negócio excepcional para ambos”, diz o
editorial. “Afinal, a expansão do consumo, com o crescente uso de meios
eletrônicos de pagamento, fez com que o volume financeiro total dos
cartões saltasse de R$ 65 bilhões em 2000 para mais de R$ 670 bilhões em
2011”.
Mas não é só isso. Existem duas grandes empresas que operam os
serviços, a Redecard e a Cielo. A Redecar é controlada pelo Banco Itaú,
que detém 50,01% das ações; a Cielo, pelo Banco do Brasil e Bradesco que
possuem 57,3% das ações. “Tal simbiose sugere, no mínimo, questões de
conflito de interesse e falta de transparência”, conclui o jornal.
Não é preciso ser esperto para perceber que os bancos não têm nenhum
interesse em maior concorrência no segmento. Talvez seja hora das
instituições reguladoras entrarem em campo.
FONTE: AdOnline
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