terça-feira, 21 de agosto de 2012

As dores do crescimento

Já comentei aqui que a privatização da telefonia no Brasil foi amplamente bem sucedida. Antes dela, lembram, se pagava mais de 2 mil dólares por um telefone convencional. Se na telefonia fixa enfrentávamos um enorme déficit de linhas, imaginem como seria a implantação da  telefonia celular e da internet caso esses serviços ficassem sob responsabilidade de empresas estatais?  
Numa rara decisão estratégica correta adotada no Brasil, optou-se pela privatização completa da telefonia celular cuja tecnologia, à época, estava se disseminando em todo o mundo. No período pós-privatização, as empresas de telefonia investiram 300 bilhões de reais para ampliar e modernizar uma infraestrutura deficiente.
Deu certo, pelo menos até que milhões de brasileiros, recentemente, ingressaram no mercado de consumo e, entre outras coisas, começaram a comprar mais comunicação, seja o celular ou a internet. Só na telefonia celular, temos hoje 250 milhões de linhas, contra 4,5 milhões na época das privatizações. A revista Exame (08/08/2012) informa que, desde 2000, o número de usuários de internet fixa cresceu 9000%, as linhas de celulares 1013% e os usuários de banda larga fixa 1200%.  
Hoje, temos quatro grandes empresas que responde por quase todo o mercado de telefonia:  TIM, Vivo, Oi e Claro.  A Oi tem 18,7%, a vivo 29,6%, a Tim 26,9% e a Claro 24,6%. Não é um número grande de empresas, mas não se pode dizer que inexiste concorrência. Aliás, fruto de planos de vendas cada vez mais ousados, o custo da ligação está, inegavelmente, num preço bastante baixo. E o consumidor tem a opção, principalmente depois da regra da portabilidade, de facilmente trocar de operadora.
Então, como se explica a crise que vive o setor, principalmente, a quantidade enorme de queixas dos consumidores com a qualidade dos serviços?
Na semana passada, várias operadoras foram proibidas de vender novos chips até apresentarem planos para resolver problemas na prestação dos serviços, principalmente, queda das linhas.
As punições tiveram como motivação decisões do Tribunal de Contas da União que motivaram providências da ANATEL.  O TCU vem exigindo, faz tempo, que seja conferido mais peso aos indicadores de atendimento na fórmula usada pela ANATEL para avaliar a qualidade dos serviços. Se a ANATEL não tomasse providências poderia ser, ela própria, também punida.  
O fato é que, com a punição aplicada às operadoras, veio à tona alguns indicadores que mostram a situação crítica dos serviços de telefonia. A razão de tudo é uma grande defasagem entre o crescimento acelerado da venda de telefones celulares e acesso à internet móvel e a infraestrutura do sistema.
Embora as operadoras reclamem que as prefeituras dificultam a instalação de antenas, o fato é que o Brasil ostenta uma média de celulares por antena muito acima da média dos países desenvolvidos. No Brasil, existem 4,6 mil telefones celulares por antena, enquanto nos EUA são 1 mil, na Espanha 460 e no Japão 400. Sobrecarregadas, as antenas não conseguem garantir sinal com qualidade. As linhas ou a internet simplesmente caem.
A situação tornou-se tão crítica que as operadores de telefonia lideram o ranking de queixas dos consumidores nos PROCONs do país, ultrapassando os cartões de crédito e os bancos.  O atendimento nas lojas é ruim, muitos planos são difíceis de entender  e as linhas caem com frequência.  
Do ponto de vista econômico, em tese, grandes empresas, com tecnologia moderna, permitem a obtenção de ganhos de escala que podem ajudar a diminuir o custo dos serviços ao consumidor. No entanto, como no Brasil o número dessas empresas ainda é pequeno – são apenas 4 -  é preciso cuidar para que as empresas não façam acordos escusos ou combinem práticas que evitem ou dificultem a concorrência. Segundo estimativas, a telefonia brasileira precisa de investimentos grandes, da ordem de R$ 380 bilhões de reais para atender com qualidade os usuários já existentes e acompanhar o crescimento da demanda. Sem esses recursos, corremos o risco de apagão nas telecomunicações.
A ANATEL precisa trabalhar. Precisa cumprir o seu dever de fiscalizar e exigir a qualidade dos serviços das empresas privadas que detém as concessões de telefonia.   

FONTE: AdOnline

Nenhum comentário:

Postar um comentário