quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Saber o que é importante

 Na quarta-feira, dia 11 de julho, o jornal O Estado de S. Paulo estampou em sua primeira página uma foto-legenda sob o título Despedida. Nela uma pomba branca pousava no caixão de d. Eugenio Sales (1920 – 2012), durante o velório do arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro, falecido no dia 9.

Consta que a ave ficou pousada sobre o caixão por uma hora, tempo suficiente para abastecer os cartões de memória dos fotógrafos de plantão, no caso do Estadão, o repórter fotográfico Tasso Marcelo, da AE (Agência Estado).


A beleza da foto na capa do jornal retratando o momento exato do pouso da pomba branca sobre o caixão mereceu o canto inferior direito da página, em tamanho reduzido. Aparentemente uma concessão dos editores do jornal mais preocupados em mostrar o jogador reserva da equipe do Palmeiras, Daniel Carvalho, durante o treino que antecedeu a partida decisiva contra o time do Coritiba pela final da Copa do Brasil. Uma inversão de valores, fruto do desconhecimento sobre as regras de concepção de uma capa de jornal e da ignorância da história recente do Brasil que assola as redações dos nossos periódicos.


Com reduzida participação na verba publicitária brasileira, 11,8% em 2011 contra 21,3% em 2001 (Projeto Inter-Meios –
Meio & Mensagem Especial Agências & Anunciantes) os grandes jornais brasileiros tendem a responsabilizar seu desempenho pelos novos hábitos dos consumidores jovens mais fascinados pela conveniência dos meios digitais dos que pelas páginas impressas.

O fato é que além dos aspectos externos que orientam o comportamento dos consumidores os responsáveis pelos jornais brasileiros deveriam olhar para dentro das redações e observar a carência de talentos do jornalismo contemporâneo e os efeitos devastadores provocados pela falta de critério na produção e difusão da informação do dia-a-dia.


Anunciantes
observam à distância, cada vez maiores e verbas, cada vez menores, a deterioração do meio que foi símbolo da luta pelas liberdades e voz local de todo e qualquer tipo de anseio popular. Ler jornal tornou-se uma atividade enfadonha e isso não é culpa do mundo virtual, isso é responsabilidade do mundo real que transforma pautas em manchetes e manchetes em escândalos, mesmo que esses ocorram na Síria, a 10.160,25 km a partir de Brasília (howstuffworks), a atual “menina dos olhos” da “Gilette press” brasileira.

A foto da capa do Estadão é de um apuro artístico e significado jornalístico muito elevado para o baixo padrão de formação e informação das redações. D. Eugenio teve atuante papel em um período da história do Brasil onde a maioria dos repórteres usava calças curtas. Isso não é, necessariamente, um problema, se as mentes não permanecerem tão curtas quanto às calças.


Saber o que é importante para ser noticiado é um dos fundamentos do jornalismo. Perder essa propriedade é corromper seu papel na sociedade e isso é de responsabilidade exclusiva dos que comandam os jornais brasileiros.

FONTE: Meio e Mensagem

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