Existe uma justificada euforia com o notável crescimento das
exportações brasileiras desde o início da década. E existe, também,
justificada preocupação com a chamada “reprimarização” das nossas vendas
para o exterior.
Afinal, se exportar é bom, traz divisas para o país, gera empregos e renda na economia nacional por que existe a controvérsia?
Se olharmos para o desempenho das exportações brasileiras na última
década, o resultado é altamente positivo. Em 2000, as vendas ao
exterior alcançaram U$ 55 bilhões de dólares; em 2011, atingiram U$ 236
bilhões, quatro vezes mais. É verdade que as importações também subiram,
passando de U$ 55 bilhões em 2000 para U$ 226 bilhões de dólares.
Porém, ao longo da década, principalmente no período pré-crise asiática
(2004-2007), o Brasil obteve saldos crescentes na balança comercial.
A preocupação com as exportações se justifica quando analisamos a
mudança na composição das exportações e nos mercados compradores. Quanto
ao primeiro aspecto, o problema é que o crescimento das exportações
ocorreu através do aumento da comercialização de produtos básicos (commodities), que representam hoje aproximadamente 50% de tudo o que vendemos ao exterior.
Para se ter uma ideia do elevado ritmo da expansão das vendas de commodities, entre 2000 e 2011, o quantum
exportado de minério de ferro dobrou e o de soja, açúcar, carne bovina
e carne de frango triplicou. Neste período ocorreu, também, forte
elevação dos preços das principais commodities, provocando um aumento
expressivo das receitas de exportação destes produtos. Exemplos: a
receita com a venda de petróleo subiu, entre 2000 e 2011, 13.572%; o
açúcar bruto, 1.417%; o minério de ferro, 1.271%; a carne de frango,
776%; e a carne bovina, 729%.
Quanto ao segundo aspecto, o crescimento da economia da China foi, sem
dúvida, o fator de maior impacto na mudança no volume e no valor das
exportações brasileiras. Há mais de 10 anos, o país asiático cresce ao
redor de 9% ao ano, incorporando milhões de chineses no mercado de
trabalho e de consumo. Recentemente, ultrapassou a marca de 50% da
população vivendo nas cidades.
Por conta do acelerado crescimento econômico, a China tornou-se, na
última década, o maior importador de recursos naturais do mundo,
ultrapassando a Europa. Considerando apenas os produtos primários, o
Brasil já é quinto maior fornecedor da China.
Os países que exportam principalmente commodities não têm controle
sobre o preço destas mercadorias e nem sobre as quantidades exportadas.
Assim, a expansão da produção interna destes setores econômicos não
depende de decisões nacionais, mas do comportamento da demanda mundial
de produtos primários e commodities. Por isso, diz-se que apesar do
crescimento do volume das exportações, estes países, entre os quais
encontra-se o Brasil, continuam sendo bastante vulneráveis às oscilações
do mercado internacional.
Além disso, economistas advertem, ainda, que as mudanças na pauta das
exportações não se devem apenas ao crescimento do volume e dos preços
dos produtos primários e minerais, mas também à perda de importância - e
de competitividade – dos demais produtos exportados, notadamente os
mais intensivos em tecnologia.
Neste segmento, que representa a metade do fluxo de comércio
internacional, o Brasil continua tendo uma participação insignificante.
Como se sabe, nestes segmentos de média e alta tecnologia, o valor
agregado é maior e a demanda mundial mais estável. Por isso, uma das
características dos países desenvolvidos é, justamente, a especialização
de suas exportações nos segmentos de alto conteúdo tecnológico e valor
agregado.
Aos países que, como o Brasil, não tem uma indústria competitiva
globalmente, resta torcer para que a economia dos emergentes,
principalmente, a China, continue crescendo.
Fonte: Radiografia do comércio exterior brasileiro: passado, presente e futuro. Associação do Comércio Exterior do Brasil – AEB, janeiro de 2012.
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