segunda-feira, 2 de abril de 2012

O crescimento das exportações.

Existe uma justificada euforia com o notável crescimento das exportações brasileiras desde o início da década. E existe, também, justificada preocupação com a chamada “reprimarização” das nossas vendas para o exterior.
Afinal, se exportar é bom, traz divisas para o país, gera empregos e renda na economia nacional por que existe a controvérsia?
Se olharmos para o desempenho das exportações brasileiras na última década, o resultado é altamente positivo.  Em 2000, as vendas ao exterior alcançaram U$ 55 bilhões de dólares; em 2011, atingiram U$ 236 bilhões, quatro vezes mais. É verdade que as importações também subiram, passando de U$ 55 bilhões em 2000 para U$ 226 bilhões de dólares. Porém, ao longo da década, principalmente no período pré-crise asiática (2004-2007), o Brasil obteve saldos crescentes na balança comercial.
A preocupação com as exportações se justifica quando analisamos  a mudança na composição das exportações e nos mercados compradores. Quanto ao primeiro aspecto, o problema é que o crescimento das exportações ocorreu através do aumento da comercialização de produtos básicos (commodities), que representam hoje aproximadamente 50% de tudo o que vendemos ao exterior. 
Para se ter uma ideia do elevado ritmo da expansão das vendas de commodities, entre 2000 e 2011, o quantum exportado  de minério de ferro dobrou e o de soja, açúcar, carne bovina e carne de frango triplicou. Neste período ocorreu, também, forte elevação dos preços das principais commodities, provocando um aumento expressivo das receitas de exportação destes produtos.  Exemplos: a receita com a venda de petróleo subiu, entre 2000 e 2011, 13.572%; o açúcar bruto, 1.417%; o minério de ferro, 1.271%; a carne de frango, 776%; e a carne bovina, 729%.
Quanto ao segundo aspecto, o crescimento da economia da China foi, sem dúvida, o fator de maior impacto na mudança no volume e no valor das exportações brasileiras.  Há mais de 10 anos, o país asiático cresce ao redor de 9% ao ano, incorporando milhões de chineses no mercado de trabalho e de consumo. Recentemente, ultrapassou a marca de 50% da população vivendo nas cidades.  
Por conta do acelerado crescimento econômico, a China tornou-se, na última década, o maior importador de recursos naturais do mundo, ultrapassando a Europa. Considerando apenas os produtos primários, o Brasil já é quinto maior fornecedor da China. 
Os países que exportam principalmente commodities não têm controle sobre o preço destas mercadorias e nem sobre as quantidades exportadas. Assim, a expansão da produção interna destes setores econômicos não depende de decisões nacionais, mas do comportamento da demanda mundial de produtos primários e commodities. Por isso, diz-se que apesar do crescimento do volume das exportações, estes países, entre os quais encontra-se o Brasil, continuam sendo bastante vulneráveis às oscilações do mercado internacional. 
Além disso, economistas advertem, ainda, que as mudanças na pauta das exportações não se devem apenas ao crescimento do volume e dos preços dos produtos primários e minerais, mas também à perda de importância - e de competitividade – dos demais produtos exportados, notadamente os mais intensivos em tecnologia.
Neste segmento, que representa a metade do fluxo de comércio internacional, o Brasil continua tendo uma participação insignificante.  Como se sabe, nestes segmentos de média e alta tecnologia, o valor agregado é maior e a demanda mundial mais estável. Por isso, uma das características dos países desenvolvidos é, justamente, a especialização de suas exportações nos segmentos de alto conteúdo tecnológico e valor agregado.  
Aos países que, como o Brasil, não tem uma indústria competitiva globalmente, resta torcer para que a economia dos emergentes, principalmente, a China, continue crescendo.
Fonte: Radiografia do comércio exterior brasileiro: passado, presente e futuro. Associação do Comércio Exterior do Brasil – AEB, janeiro de 2012.

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