A maioria dos economistas está de acordo sobre as causas da baixa taxa
de crescimento da economia brasileira e, principalmente, da indústria,
nos últimos anos: carga tributária alta, taxa de juros elevada, câmbio
valorizado e a precária infraestrutura nacional.
No entanto, fazer o diagnóstico correto não implica automaticamente na
adoção de políticas eficazes e consistentes. Aliás, o que vemos no nosso
país é uma situação de descasamento entre diagnóstico e políticas.
Senão vejamos.
O governo tem usado basicamente três instrumentos de política econômica
para proteger setores ou segmentos da indústria em dificuldades:
barreiras comerciais, desoneração temporária de tributos e mais crédito
com algum grau de subsídio. Sem exagero, a política industrial
brasileira há muito tempo resume-se à aplicação desses três
instrumentos.
Sobre as barreiras comerciais, há muito tempo os economistas
identificaram forte correlação entre livre comércio e crescimento
econômico. Quanto maior forem as exportações e as importações do país,
mais próspero ele será. É fácil de compreender: o país que muito exporta
muito gera recursos para importar bens e tecnologias que não tem
capacidade de produzir. A indústria nativa e os consumidores ganham com
isso. A indústria porque pode comprar equipamentos mais modernos,
atualizar-se tecnologicamente e melhorar a produtividade. Os
consumidores porque podem comprar bens que não são fabricados no país. A
abertura comercial, portanto, em tese, é boa para o desenvolvimento.
As barreiras tarifárias, quando usadas em larga escala e transformadas
em políticas permanentes, produzem o efeito contrário. Além de encarecer
os bens para os consumidores, no longo prazo condenam a indústria-alvo
ao atraso tecnológico e à baixa competitividade. O exemplo da indústria
automobilística é ilustrativo. Durante décadas, os brasileiros podiam
comprar apenas carros fabricados aqui. Protegida, a indústria nacional
fabricava carros tecnologicamente atrasados e ainda por cima mais caros
do que os fabricados em outros países. Levamos quarenta anos para abrir
esse mercado e permitir que o brasileiro pudesse comprar carros modernos
e mais baratos.
Com relação ao crédito, o simples aumento da oferta de dinheiro não
resolve o problema. Ainda que as taxas de juros sejam subsidiadas, as
empresas sabem que o seu problema de competitividade não reside apenas
no acesso ao crédito, mas nos demais custos elevados para produzir, como
encargos trabalhistas, sistema tributário burocrático e oneroso e
infraestrutura deficiente.
Todos os países, em algum grau, protegem as suas empresas ou setores
menos competitivos. Não se pode, ingenuamente, imaginar um comércio
totalmente livre de barreiras. Todos utilizam subsídios, cotas de
importação, impostos de importação, etc. A diferença refere-se ao grau
de proteção. Quando o protecionismo é usado em larga escala produz as
seguintes consequências:
a) cria um poderoso incentivo ao atraso tecnológico das empresas beneficiadas;
b) torna os produtos mais caros para os consumidores;
c) em determinados setores, incentiva o contrabando e o mercado negro e, por conseguinte, a sonegação fiscal.
Por isso, é recomendável que as políticas protecionistas sejam usadas apenas para resguardar temporariamente
os setores mais vulneráveis, dando-lhes fôlego para recuperar o atraso
em relação aos seus concorrentes. Recomenda-se aplicá-las juntamente com
metas de aumento de produtividade e modernização tecnológica.
A redução de tributos, embora positiva, é sempre discricionária. Por
que premiar um setor e não outro? Qual o critério para dar desoneração
para automóveis, geladeiras e máquinas de lavar roupa e não para sofás,
mesas, cadeiras, lâmpadas, fios, cimento, condicionadores de ar, arroz,
carne, leite etc?
Finalmente, no regime de câmbio livre e flutuante atualmente adotado
pelo Brasil, o governo tem poucos instrumentos para interferir
diretamente no valor do real ante o dólar. Sem mudar o regime cambial,
pode interferir apenas por medidas administrativas e tributárias. Na
maioria das vezes, os efeitos dessas medidas tem se mostrado nulos ou
muito limitados.
É preciso separar as medidas de curto prazo das de médio e longo
prazos. No curto prazo, como dissemos, as desonerações, isenções,
subsídios e oferta de crédito podem ser usadas com certo êxito. Mas é
importante compreender que elas não terão efeito amplo na
competitividade da indústria nacional.
Para que a indústria nacional atinja um novo patamar de produtividade é
preciso um conjunto de ações horizontais que produzam efeito sistêmico
na economia em pelo menos quatro frentes: a) incentivo à pesquisa e
desenvolvimento tecnológico; b) redução do custo do capital e dos
encargos trabalhistas; c) qualificação da força de trabalho e d)
melhoria das condições da infraestrutura nacional. Ou seja, é preciso
medidas que alterem drasticamente os fatores que entravam a expansão e a
competitividade do conjunto da indústria nacional. Isso leva tempo,
precisa persistência e foco, mas é o único caminho consistente.
Nota: Depois que havia escrito este artigo, saiu o novo pacote de ajuda
do governo federal à indústria nacional (03/04). O pacote consiste em
diversas iniciativas pontuais, seletivas, que devem trazer um pouco de
alívio no caixa de certos setores e empresas, mas que estão ainda
distantes de focar os problemas estruturais que reduzem a
competitividade da indústria nacional. Nas próximas semanas, pretendo
comentar mais a respeito do tema.
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