Não há dia em que os jornais não trazem algum empresário ou economista
reclamando da “desindustrialização” que estaria ocorrendo no Brasil.
Pode-se definir a “desindustrizalização” como “a perda relativa de
dinamismo da indústria na geração de renda e emprego na economia”.
De fato, quando olhamos os indicadores sobre a participação da indústria nacional no PIB, a tese parece verdadeira.
No período 1947-1985, a indústria cresce de forma contínua e
consistente. Sua participação no PIB aumenta de 11%, em 1947 para
27,2% em 1985.
Neste ano, começa a queda, com pequenas oscilações. Até alcançar, em
apenas 15,9% do PIB, o mesmo patamar observado em 1957-59, no governo
Juscelino Kubischeck.
Enquanto a indústria definhava, o setor de serviços crescia, passando de 58% do PIB em 1947 para 68,5% em 2009.
Como reflexo desse processo, a participação da indústria de
transformação no emprego diminuiu 28%, enquanto a do setor de serviços
cresceu 11%.
Nas ultimas três décadas, a indústria brasileira perdeu participação no
âmbito mundial. Nos anos 1980, a indústria brasileira era responsável
por 3% da produção mundial; em 2007 por apenas 2,2%.
Os dados não parecem deixar dúvida de que, de fato, a indústria brasileira está perdendo dinamismo e importância.
Alguns economistas argumentam que a redução do peso da indústria na
estrutura da economia é um fenômeno natural, intrínseco à passagem para o
estagio de desenvolvimento. Foi o que ocorreu, dizem, nos Estados
Unidos. Em 1947, a indústria de transformação representava 29% do PIB
norte-americano; em 2009, apenas 12,7%. Em contrapartida, o setor de
serviços cresceu de 53% para 77,4% do PIB.
No entanto, quando olhamos para outro país desenvolvido, a Alemanha, o
fenômeno se mostra menos evidente. Desde l960, houve uma ligeira queda
na participação da indústria de transformação no PIB alemão, de 27,5%
para 24%, o que indica que a indústria ainda tem um peso considerável na
economia alemã. Tal fato coloca em dúvida a premissa de que nos países
avançados, inexoravelmente, o processo de desenvolvimento implica na
redução da participação da indústria no PIB.
De outra parte, quando comparamos a performance da indústria de
transformação no Brasil e países emergentes, o quadro fica ainda pior.
Na Coreia do Sul, desde os anos l960, o setor de serviços vem crescendo
juntamente com a indústria de transformação. Em 1965, a indústria de
transformação representava 13,5% do PIB; em 2007, 28%. Na China, ocorre
o mesmo fenômeno. O setor de serviços salta de 27% para 43% do PIB e a
indústria de 29% pra 34% entre 1965 e 2009. Na Índia, o peso da
indústria cresceu de 14% para 16% nos últimos 30 anos, ao passo que o
setor de serviços aumenta sua participação no PIB de 37,6 para 54%.
A perda de dinamismo do setor industrial brasileiro, nas últimas duas
décadas, não pode ser explicada apenas pelo processo de desenvolvimento,
como se fosse algo intrínseco e até mesmo natural. O exemplo da
Alemanha mostra que, mesmo numa economia avançada, o setor industrial
pode se manter como um setor importante no conjunto da economia.
A experiência dos países emergentes demonstra que a indústria pode
crescer simultaneamente ao crescimento do setor de serviços e manter
considerável peso na economia.
Desde os anos 1990, o Brasil cresceu, modernizou-se, ampliou
enormemente seu mercado interno com a incorporação de 35 milhões de
brasileiro no consumo e intensificou os fluxos de comércio com o mundo.
Mas nada indica que tais mudanças não pudessem ser compatíveis com o
fortalecimento do setor industrial. Ao contrário, era de se esperar que o
crescimento da demanda interna fosse atendido pela indústria nacional, o
que acabou não acontecendo. Restou então a saída das importações,
principalmente dos países da Ásia.
É preciso, portanto, procurar as causas da “desindustrialização” em outro lugar.
Fonte: O processo de desindustrialização, FIESP, janeiro de 2011.
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