quinta-feira, 19 de abril de 2012

A ameaça da desindustrialização I

Não há dia em que os jornais não trazem algum empresário ou economista reclamando da “desindustrialização” que estaria ocorrendo no Brasil.
Pode-se definir a “desindustrizalização” como “a perda relativa de dinamismo da indústria na geração de renda e emprego na economia”.
De fato, quando olhamos os indicadores sobre a participação da indústria nacional no PIB, a tese parece verdadeira.
No período 1947-1985, a indústria cresce de forma contínua e consistente.   Sua participação no PIB aumenta de 11%, em 1947 para 27,2% em 1985.  
Neste ano, começa a queda, com pequenas oscilações. Até alcançar, em apenas 15,9% do PIB, o mesmo patamar observado em 1957-59, no governo Juscelino Kubischeck.  
Enquanto a indústria definhava, o setor de serviços crescia, passando de 58% do PIB em 1947 para 68,5% em 2009.
Como reflexo desse processo, a participação da indústria de transformação no emprego diminuiu 28%, enquanto a do setor de serviços cresceu 11%.
Nas ultimas três décadas, a indústria brasileira perdeu participação no âmbito mundial. Nos anos 1980, a indústria brasileira era responsável por 3% da produção mundial; em 2007 por apenas 2,2%.
Os dados não parecem deixar dúvida de que, de fato, a indústria brasileira está perdendo dinamismo e importância.   
Alguns economistas argumentam que a redução do peso da indústria na estrutura da economia é um fenômeno natural, intrínseco à passagem para o estagio de desenvolvimento.  Foi o que ocorreu, dizem, nos Estados Unidos. Em 1947, a indústria de transformação representava 29% do PIB norte-americano; em 2009, apenas 12,7%. Em contrapartida, o setor de serviços cresceu de 53% para 77,4% do PIB. 
No entanto, quando olhamos para outro país desenvolvido, a Alemanha, o fenômeno se mostra menos evidente. Desde l960, houve uma ligeira queda na participação da indústria de transformação no PIB alemão, de 27,5% para 24%, o que indica que a indústria ainda tem um peso considerável na economia alemã. Tal fato coloca em dúvida a premissa de que nos países avançados, inexoravelmente, o processo de desenvolvimento implica na redução da participação da indústria no PIB.  
De outra parte, quando comparamos a performance da indústria de transformação no Brasil e países emergentes, o quadro fica ainda pior. Na Coreia do Sul, desde os anos l960, o setor de serviços vem crescendo juntamente com a indústria de transformação.  Em 1965, a indústria de transformação representava 13,5%  do PIB; em 2007, 28%. Na China, ocorre o mesmo fenômeno. O setor de serviços salta de 27% para 43% do PIB e a indústria de 29% pra 34% entre 1965 e 2009. Na Índia, o peso da indústria cresceu de 14% para 16% nos últimos 30 anos, ao passo que o setor de serviços aumenta sua participação no PIB de 37,6 para 54%.
A perda de dinamismo do setor industrial brasileiro, nas últimas duas décadas, não pode ser explicada apenas pelo processo de desenvolvimento, como se fosse algo intrínseco e até mesmo natural. O exemplo da Alemanha mostra que, mesmo numa economia avançada, o setor industrial pode se manter como um setor importante no conjunto da economia.   
A experiência dos países emergentes demonstra que a indústria pode crescer simultaneamente ao crescimento do setor de serviços e manter considerável peso na economia.
Desde os anos 1990, o Brasil cresceu, modernizou-se, ampliou enormemente seu mercado interno com a incorporação de 35 milhões de brasileiro no consumo e intensificou os fluxos de comércio com o mundo. Mas nada indica que tais mudanças não pudessem ser compatíveis com o fortalecimento do setor industrial. Ao contrário, era de se esperar que o crescimento da demanda interna fosse atendido pela indústria nacional, o que acabou não acontecendo. Restou então a saída das importações, principalmente dos países da Ásia. 
É preciso, portanto, procurar as causas da “desindustrialização” em outro lugar.
Fonte:  O processo de desindustrialização, FIESP, janeiro de 2011.

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