Por: Marcelo Rech
Ok, estamos todos de acordo que viralizar um vídeo fake para fazer buzz
sobre um produto, serviço ou lançamento é uma arte que está atingindo
requintes antes reservados aos grandes mestres da prestidigitação. O
sucesso instantâneo de alguns vídeos forjados para parecerem reais e
que, de fato, acabam iludindo milhões de usuários poderia ser endereçado
para o escaninho das discussões éticas, mas não é este o caso.
Pessoalmente, prefiro me divertir com as pegadinhas ungidas em
laboratórios nos quais publicitários com visão digital produzem
irresistíveis alquimias visuais, como a da louca que destrói a marteladas o carro de sua paixão ou do amante em cuecas que escapole pela janela do prédio.
Bacana mesmo. E compreende-se o entusiasmo em se comemorar 3 milhões de
views de um vídeo (embora esta audiência seja menor do que a de uma
matéria no noticiário do fim da tarde da RBS TV no Rio Grande do
Sul...). O que não é animador é tomar conhecimento de que jornalistas e
veículos jornalísticos não só caíram nas pegadinhas como se
transformaram em correia de transmissão de um conteúdo forjado.
Meu argumento é simples: publicidade é publicidade, jornalismo é
jornalismo. Cabe a publicidade vender, e bem, um produto. Cabe ao
jornalismo informar a verdade, às vezes à custa de desgostos,
insatisfações e boicotes de empresas, governos e até de parte do
público. Paciência: o jornalismo não está no ramo de fazer amigos, mas
de retratar e interpretar a realidade. Este não é um conceito
anacrônico. Ao contrário, nunca foi tão vital para a indústria. Diante
da mistureba de conteúdos, chegar o mais próximo da verdade tornou-se
imprescindível, estratégico mesmo, para a saúde e o futuro da
comunicação e, em particular, dos empreendimentos jornalísticos. Se eles
perderem a credibilidade junto ao público, o que mais restará perder?
Por isso, o jornalismo que dá vazão a um vídeo fake como se verdadeiro
fosse está, para dizer o mínimo, cometendo um equívoco brutal, ao qual
deve se seguir um pedido de desculpas ao público. O jornalismo precisa,
mais do que nunca, informar a verdade (aliás, como bem fez este site do Meio & Mensagem ao dar em manchete “Amante da janela é viral da Discovery.)
A primeira obrigação de uma redação não é transmitir notícias: é checar
informações, descobrir se ela é verdadeira ou não. E, se não for,
trazer à tona a verdade, estragando a festa dos outros, se necessário
for. Por isso, parabéns viralizadores e meus lamentos aos que
descumpriram o dever do bom jornalismo.
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