Por: Tadeu Viapiana
Outro dia escrevi aqui que o problema das cotas é que elas não tocam no
problema crucial da educação brasileira: a qualidade ruim do ensino
básico e fundamental na escola pública. É simples, se o ensino básico e
fundamental fosse de boa qualidade, não precisava de cotas. Todos os
alunos, sejam eles da escola pública ou privada, teriam a mesma condição
de competir.
Agora surge mais uma boa evidência para reforçar meu argumento. Uma
pesquisa feita por dois professores da Universidade Federal Fluminense
mostrou que os alunos cotistas têm notas inferiores aos alunos não
cotistas. Pior, a diferença não é apenas nos primeiros semestres, ela
ocorre ao longo de todo o curso. A amostra da pesquisa é grande: foram
analisadas as notas de 167 mil alunos, de treze cursos diferentes nas
áreas de ciências humanas, engenharia, filosofia, história e matemática.
Conforme a Folha de São Paulo (28/04), as diferenças de notas entre os
cotistas e não cotistas mostrou-se mais elevada nos cursos de Física
(73%), Ciência da Computação (43%) e Filosofia (26%), e menor nos
cursos de Administração (4,2%) e Matemática (0,15%).
A pesquisa reafirma uma conclusão já conhecida dos especialistas em
educação: a qualidade do ensino básico e fundamental é preditiva do
desempenho futuro do estudante. É nesses dois níveis que se formam as
competências básicas dos estudantes. O que deixamos de aprender ali, ou
aprendemos mal, nos acompanham para o resto da vida.
Já se disse que um dos maiores erros cometidos pelo Brasil nos anos
1980 e 1990 foi não ter compreendido a necessidade do investimento
correto em educação básica e fundamental, como fizeram muitos países
asiáticos. Hoje, eles estão na nossa frente em competitividade econômica
e produzindo bens com alto valor agregado em tecnologia.
Ao invés de aprender com eles, optamos pelo caminho mais fácil da
improvisação. Optamos pelas cotas, o caminho mais fácil e, vemos agora,
o menos adequado.
FONTE: AdOnline
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