Costumo dizer que a visão é um meio termo entre o objetivo e os sonhos.
Rogério é um jovem de 21 anos, como muitos de sua idade, sonhador e
idealista. Muitos projetos na cabeça, muita energia e muita vontade de
construir um futuro de sucesso. Ele sabe que está na fase de aprender.
Acaba de concluir o curso superior em Tecnologia da Informação.
Prepara-se agora para fazer um mestrado em Finanças Corporativas.
Interessa-se por assuntos tão diversos quanto Tae-kwon-do, a luta
marcial, e física quântica. Lê livros de astrologia e assina revistas de
botânica. Pergunte-lhe o que espera da vida e suas vagas respostas dão
uma idéia da imaturidade que rege suas ações presentes, tão típico em
jovens que sofrem com as indefinições e falta de rumo, muito comum nesta
faixa etária. Para Rogério, é importante adquirir conhecimento,
aprender o que puder sobre tudo, pois algum dia vai ter um bom uso para
esta diversidade de informações.
Tome agora o exemplo de Jorge, 40 anos. Ex-bancário, também se formou
em Computação em 1983, fez 3 pós-graduações e um mestrado em
Administração. É professor universitário e vende seus conhecimentos a
uma empresa de software de médio porte, como consultor autônomo. Por
mais de uma vez recusou a oferta de dedicar-se integralmente a esta
empresa em troca de uma participação na sociedade. Igualmente tem
ignorado os conselhos dos amigos que sugerem que deixe de trabalhar
sozinho e aproveite todo o seu potencial para abrir uma empresa de
consultoria. Não. Para Jorge, ainda que tentadoras, estas oportunidades o
levam para fora do caminho que havia traçado em sua vida. Seu projeto
de vida é construir uma carreira em que não tenha que trabalhar como
funcionário, mas que também não precise assumir os riscos e a
responsabilidade de dirigir uma empresa própria.
O que diferencia Jorge e Rogério é a mesma coisa que Jorge tem em
comum com grandes empreendedores, sobreviventes de holocaustos e
esportistas de sucesso: Uma visão poderosa do futuro. É como se estas
pessoas especiais tivessem o poder de prever o futuro. Não, não quero
dizer que empreendedores possuem este dom sobrenatural. Na verdade, seu
dom se resume a tomar as decisões importantes na vida que o levam a este
futuro, é a capacidade de construir o futuro que ele previu.
Costumo dizer que a visão é um meio termo entre o objetivo e os
sonhos. Enquanto os sonhos são uma quimera, uma utopia, algo etéreo e
muitas vezes inatingível, a visão é a parte do sonho que pode se tornar
realidade, inspira e motiva, são imagens do futuro que guiam nossas
ações presentes, que alimentam nossa determinação e garra para trilhar o
caminho em sua direção. E os objetivos são parte de um plano que
traçamos neste sentido. Visão é diferente de objetivos, definimos os
objetivos concretos com base nesta visão do futuro. Podemos ter vários
objetivos para a mesma visão. Mas o objetivo nós alcançamos, é
mensurável e está posicionado em algum momento no tempo.
Já a visão é subjetiva, não clara, não é mensurável e nem posicionada
no tempo. Você constrói uma visão sobre um momento em um futuro
distante, o tempo para atingir a visão não pode ser medido ou previsto.
Aliás, sendo mais direto, a visão não precisa sequer ser atingida. A
visão é mais inspiradora e dá um senso de direção, mas não
necessariamente queremos ou poderemos atingi-la. Isso me faz lembrar da
história do menino que atirava pedras. Todas as noites ele fazia a mesma
coisa, atirava pedras para o alto. Um senhor passou e perguntou o que
ele tentava acertar, pois não havia nenhum alvo aparente e o garoto
respondeu que tentava acertar a Lua. ‘Ora garoto, deixe disso, a Lua é
muito longe, você jamais vai conseguir acertá-la', retrucou o homem. Ele
não deu ouvidos e continuou tentando, se esforçando em atirar as pedras
com cada vez mais força. Obviamente ele nunca acertou a Lua, mas você
pode apostar que ele era, dentre todos os meninos da rua, o que atirava
pedras mais longe. Por isso, uma meta ousada, desafiadora, que você
nunca atingiu antes não precisa ser necessariamente realizada, mas deve
inspirar suas ações e decisões para levar seu grau de competências um
degrau acima. O empreendedor evolui quando sua visão é desafiadora.
Jorge construiu sua visão quando tinha 19 anos. Ele se via com uma
família constituída, vivendo numa casa de alto padrão de onde trabalhava
e gerava o produto que ele vendia: Conhecimento. Escrevia livros, dava
palestras e treinamentos. Se imaginava com uma reputação forte e bem
conhecido em seu meio, mas projetava um futuro sem muito luxo nem
sofisticação, com qualidade de vida e simplicidade. A partir desta
visão, decidiu o que iria estudar, com quem iria se casar, quando se
mudaria de cidade, que tipo de trabalho procuraria e outros inúmeros
objetivos, pequenos e grandes ao longo de sua vida.
O escritor Richard Bach, famoso pelo best seller ‘Fernão Capelo
Gaivota', escreveu uma das minhas obras favoritas, ‘Um', que retrata uma
parábola muito interessante sobre o destino. Para ele, nossa vida já
está totalmente traçada num mapa. Um mapa cheio de caminhos e
bifurcações. Cada bifurcação é uma escolha que tivemos que tomar na
vida, que nos leva a percorrer um determinado caminho do mapa. Se
pudéssemos voar sobre este mapa e aterrisar aleatoriamente, veríamos
como seria nossa vida se, em algum ponto do passado, tivéssemos feito
uma escolha diferente. Assim, se naquela fila de supermercado você não
tivesse puxado assunto com o senhor à sua frente, não saberia que ele
lhe proporia um emprego, onde você conheceria sua futura esposa, que lhe
daria um filho que conquistaria um prêmio Nobel, em outro momento,
graças à decisão de parar para atender o celular, você escapou de um
acidente que o deixaria tetraplégico, e assim por diante.
Eu terminei recentemente a construção da minha casa.
Tradicionalmente, após a fase de cobertura da construção, os donos
oferecem um churrasco aos operários da obra. Neste dia tive um exemplo
do poder da visão. Conversando com os pedreiros, percebi que a maioria
via seu trabalho como uma mera forma de sobrevivência, eles apenas
ganham um salário para encher laje, assentar tijolos, rebocar paredes.
Um deles, entretanto, tinha uma visão diferente. Para ele seu trabalho
era nobre e importante, com seu linguajar simplista ele disse que
naquela casa que ele estava ajudando a construir, crianças cresceriam,
histórias seriam escritas, lembranças seriam gravadas para sempre nas
memórias daqueles que lá vivessem. Ele dava um significado diferente ao
seu trabalho porque conseguia ter uma visão clara do fruto de seu
esforço.
FONTE: CidadeMarketing
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