Todos os países gostariam de exportar mais do que importam. Teriam,
assim, saldo na balança de comércio exterior, uma espécie de poupança do
país para aumentar os investimentos na economia e/ou enfrentar períodos
de crise ou turbulência.
Como as economias nacionais são diferentes uma das outras, o comércio é uma forma de torná-las complementares.
Países ricos em recursos naturais exportam matérias primas e importam
produtos industrializados; países industrializados importam matérias
primas e exportam produtos, insumos e máquinas.
Existem países, como o Brasil, que se encontram numa posição
intermediária: já contam com um parque industrial importante mas ainda
ancoram boa parte de seu comércio com o mundo na exportação de commodities agrícolas ou minerais.
As importações trazem importantes benefícios para a economia: a) os
consumidores têm acesso a bens fabricados em outros países; b) podem
comprar bens com preços eventualmente mais baratos do que aqueles
produzidos localmente e c) através da importação de máquinas e insumos
modernos, a indústria nacional moderniza o seu parque produtivo e
eventualmente reduz seus custos de produção.
Para os países em desenvolvimento, as importações muitas vezes
representam o único canal disponível para a incorporação de progresso
tecnológico e consequentemente, para aumentar a sua produtividade, fator
decisivo no cenário da competição global.
No Brasil, em 2011, 21% de todos os insumos usados na indústria vinham
de fora do país. Em alguns setores de ponta como os de informática,
eletrônicos, ópticos, fármacos e químicos a dependência de insumos do
exterior ultrapassa 40%. Ou seja, o produto é fabricado aqui, mas com
quase a metade da matéria prima vinda de fora.
Isso se deve em grande parte, à apreciação do real ante o dólar. Fica
mais barato importar do que comprar do fornecedor nacional.
No curto prazo, a opção é positiva uma vez que tende a reduzir os
custos de produção; mas é também negativa, pois ajuda a reduzir a
produção de insumos e o nível de emprego nos fornecedores nacionais.
O economista Carlos Lessa, um dos maiores especialistas em indústria brasileira, resumiu bem o dilema em que nos encontramos:
“Dada a política nacional de estímulo às importações e de passividade
ante a valorização do real, as empresas têm em mãos um instrumento para
cortar margens de lucro de seus fornecedores internos, mediante
importações de componentes e de matérias primas. Ao fazê-lo, torna-se um
agente de atrofia das cadeias produtivas internas da economia
brasileira e destruidor de empregos qualificados. A empresa industrial,
nesse caso, torna-se adversária da industrialização e adepta da doutrina
de livre câmbio e da especialização em exportações primárias”.
Ou seja, perseguindo seus interesses de curto prazo, ao importar
insumos de outros países, as empresas nacionais acabam por ajudar a
destruir elos importantes da cadeia produtiva nacional. Fazem isso, não
porque querem, mas porque precisam reduzir custos, aumentar a
produtividade e serem competitivas ante a indústria mundial. Induzidas,
em larga medida, pelo câmbio valorizado.
São desequilíbrios estruturais como esse, que nascem de uma conjuntura
de curto prazo, que por seus efeitos de largo alcance podem comprometer o
futuro da indústria nacional.
FONTE: AdOnline
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