Um estudo divulgado recentemente pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI) aponta que um em cada cinco produtos industriais
consumidos no país é importado. Mas o trabalho revela, também, que um em
cada cinco produtos fabricados no Brasil é exportado. Então,
aparentemente, são elas por elas.
Na verdade, a participação dos importados no consumo de bens finais
tais como roupas, calçados, automóveis, bicicletas, móveis, televisores,
etc situa-se no mesmo patamar há muitos anos. Aproximadamente 80% do
total das importações brasileiras é constituído de insumos industriais ,
máquinas e equipamentos.
Nos últimos anos, no entanto, ocorreu uma importante mudança: o
crescimento dos insumos industriais importados em prejuízo dos
fornecedores nacionais. Com o câmbio valorizado, ficou mais barato
importar insumos de outros países do que comprá-los no mercado
brasileiro.
Comprar mais bens do exterior ou importar mais insumos industriais não
é, em princípio, algo ruim para o desenvolvimento econômico.
O efeito da abertura econômica de um país pode ser positivo ou
negativo, dependendo da composição do que ele importa e/ou exporta.
Por exemplo, durante séculos o Brasil exportou matérias primas e
importou produtos industrializados. Nessa relação, o país evidentemente
perdia pois suas receitas com produtos exportados era invariavelmente
inferior às despesas com as importações, constituídas de produtos com
maior valor agregado e portanto mais caras.
Por isso, desde a década de 1930, com forte apoio estatal, o país
empreendeu um grande esforço para construir uma indústria sólida e
ampla. O modelo de substituição de importações tinha como objetivo, como
o nome diz, construir fábricas para produzir dentro do país o que antes
era importado.
Na década de 1990, impulsionado pelo novo contexto mundial de
globalização econômica, abre-se um novo período na política comercial
brasileira. O país inicia um vigoroso processo de abertura econômica,
reduzindo as tarifas medias de importação de forma substancial. Em 1988,
a tarifa efetiva média era de 50%, caindo para o patamar de 20%, em
1993, e para 14%, em 2010. (1)
Embora importante, quando comparado com os países desenvolvidos e em
desenvolvimento, a abertura econômica brasileira ainda é parcial.
O Brasil ainda conta com uma tarifa média de importação bem mais alta
da existente nos países emergentes e nos países desenvolvidos. Na
Alemanha e a Inglaterra têm uma tarifa média de 1,9%, os Estados Unidos
de 2,9%, a Rússia de 6%, a China de 8% e a Argentina de 11,4%.
A verdade é que, apesar dos avanços, comparado com os países desenvolvidos, ainda somos um pais relativamente fechado.
Como já comentei aqui, o problema de aumentar a penetração dos insumos
importados na nossa indústria é a destruição de elos importantes em
nossas cadeias produtivas, em prejuízo dos fornecedores nacionais.
Tão ruim quanto importar móveis, roupas, sapatos, geladeiras,
automóveis etc que poderiam ser produzidos aqui, é importar insumos que
entram na fabricação de bens supostamente nacionais. O ideal, claro, é
verticalizar a produção, com o maior percentual possível de matérias
primas sendo produzida internamente.
Será preciso, talvez, um novo esforço de substituição de importações, como fizemos a partir de 1930.
(1)A tarifa efetiva mede a distância entre o valor adicionado doméstico e o valor obtido em uma situação de livre comércio.
Fonte:Um plano de pouco brilho, Revista Veja, 11 de abril de 2012, pg. 70 e ss.
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