quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nariz torto na apresentação da agência

Como dizer pra pessoa, que investiu uma grana em procedimentos estéticos, que seu olho ficou repuxado, que sua cara botoxou demais, que alguma coisa resultou fora de esquadro? Talvez deixando ao alcance de sua vista os anúncios e cartazes super-photoshopados que proliferam por aí, com celebridades de pele achocolatada, metalizada ou plastificada, quase ao ponto de se tornarem irreconhecíveis.

Mania de perfeição? Parece que sim. Estranha perfeição, que se dedica mais aos retoques de pós-produção do que à reflexão pré-clique do que se pretende comunicar. Curiosa perfeição que, ao se afirmar, renega o que temos de mais humano, e capricha pra nos tornar feios e falsos.


Confiando demais nas intervenções científico-tecnológicas, estamos de alguma forma negligenciando nossa essência, esquecendo de que são as pequenas imperfeições que nos tornam críveis. No afã de impressionar, corremos pra mostrar agilidade, minimizamos pra fingir capacidade de síntese, e acabamos pasteurizando tudo à nossa volta. Não só as fotos, também os filmes, as trilhas sonoras, os banners e, last but not the least, as apresentações das empresas: o incrível processo “sdruws”, o trabalho coletivo, a abertura multidisciplinar, o domínio do pensamento digital etc, etc.


No desespero de encarnar o que seria “o novo modelo de agência”, o mercado publicitário (salvo honrosas exceções) conseguiu a proeza de pasteurizar até o discurso, e o que falamos de nós mesmos cada vez mais se parece com o que os políticos falam de si no horário eleitoral gratuito: um monte de gente “perfeita”, sem ideologia, sem convicção, sem autocrítica, sem diferenciação relevante, tentando adivinhar o que os eleitores / clientes gostariam de ouvir.


Este é o momento de olharmos a propaganda eleitoral como o paciente da cirurgia plástica deve olhar para o anúncio photoshopado, e pensarmos melhor com que cara cada empresa há de enfrentar as demandas por uma comunicação mais emocionante, envolvente, eficaz e, acima de tudo, verdadeira.  

FONTE: Meio e Mensagem

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