quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O marketing pode ajudar o governo?

Por: Laudelino José Sardá

A divisão de marketing do governo do estado – até onde conheço – tem servido para a definição de planos de campanha e demais ações que implicam no relacionamento com as agências de publicidade. O marketing político está distante e raramente surge com o chamado “consultor”, aquele que aparece, dá palpites, embolsa a remuneração e não espera pelos resultados. A maioria dos consultores acaba contratada através de uma credencial política e, assim, com nível zero de comprometimento.

Certa vez, perguntaram ao então governador de São Paulo, Jânio Quadros, se não estaria precisando de um profissional de marketing para orientá-lo em suas estratégias. Jânio mordeu os lábios, ajustou os óculos com dois dedos e foi lacônico: “ele vai me ensinar o que tenho a falar? Ele vai prever os problemas que tenho de enfrentar? Ele vai me garantir que atitudes podem dar certo? Ele vai dizer quais as obras que são melhores e urgentes para os paulistas? O proponente saiu entrelaçando as pernas, mais que o próprio homem da vassourinha.
Se o governador Raimundo Colombo fizesse essas mesmas perguntas hoje eu não me surpreenderia. E a razão é simples: o profissional de marketing – em sua maioria – concentra-se mais com a visão publicitária, enquanto as agências se limitam às campanhas que lhes rendem o pão nosso de cada dia.

Fúlvio Vieira, assessor de comunicação do governo Celso Ramos, talvez tenha sido um dos raros profissionais a pensar estrategicamente as ações. Ele exercia o cargo de chefe de Relações Públicas e concentrava todas as atividades de comunicação. Pela primeira vez o governador chegava a um município com a comunicação dominando a região. Fúlvio enviava dias antes a equipe chefiada por Salim Miguel, que alimentava as rádios, principalmente, com informações do governo. Isto no começo dos anos 60. O lançamento de planos de governo era precedido de estratégias de comunicação. O governo de Celso ficou conhecido com o primeiro a planejar o estado, criando o modelo de microrregiões, o banco do estado, a Udesc, etc.
Além disso, Fúlvio Vieira era um profissional ouvido por Celso Ramos e, por isso, soube influenciar nas ações do governo.

E se houvesse um profissional de marketing hoje?
Claro que na época de Fúlvio o marketing ainda engatinhava, ocupando modesta posição no organograma de poucas empresas. Hoje, o marketing vai além da identificação de produtos importantes aos consumidores e de estratégia de venda. O marketing tem seu papel valioso na estrutura, planejamento e funcionamento de uma organização.

Assim, se analisássemos  o político Raimundo Colombo concluiríamos que é um governador com um perfil bom para se trabalhar. Ele tem um discurso objetivo, sabe sorrir na hora certa, transparece uma pessoa séria e com disposição para fazer e acertar. Mas tem um defeito já identificado pela própria população: hesita demais em decisões urgentes. Por exemplo: se 15 dias de greve são suficientes para destituir um secretário, então por que o da Saúde se mantém intocável depois de 60 dias de paralisação dos servidores? O desgaste foi enorme, como também o foi a greve na educação, onde há ainda focos de incêndio.
Da mesma forma, o desempenho do governo permite-nos comparar com um carro novo e atraente, mas que soluça ao dar partida. A ansiedade de Colombo, de fazer com que as ações sejam praticadas, leva-o a uma amargura, a de não poder bater numa mesa excessivamente eclética, em que os partidos ainda sufocam os decibéis do governante. O governo mudou, mas quantos assessores de extrema confiança são de Colombo? Vai dar para instituir um perfil de governo? Ou vai continuar com a bandeira de matrimônio partidário? A convivência com os partidos é até salutar, desde que o governador faça prevalecer a sua marca de administrador. Do contrário, os secretários regionais saberão estrategicamente montar suas estruturas eleitorais em nome do seu partido.
E o que o marketing pode fazer por Colombo?
O governo vive dois mundos, o do real, em que pode enxergar problemas econômicos e sociais, e o mundo do palácio, onde ocorrem os conflitos, acertos e avanços políticos, estratégias e decisões. O mundo real precisaria pesar mais na visão, planejamento e nas ações. Para isso, é preciso definir bem o que Colombo quer, além de se reeleger em 2014. Entendo que o governo tem três grandes desafios que poderiam marcar a sua gestão em nível de Santa Catarina, além de obras normais previstas no plano Pacto, que deveria ser chamado de Impacto, até porque Santa Catarina não precisa de acordo, mas de ações e inovações.
Os três desafios:
- Resgatar, fortalecer e enriquecer a identidade de Santa Catarina no tocante aos seus valores culturais, sociais, econômicos etc. Perdemos a autoestima e vivemos no rastro de eventos trazidos de fora e de artistas que pousam aqui causando frisson à mídia. Será que precisamos convocar gaúchos para nos ensinar a cantar o nosso hino com lenço verde no pescoço? O governo que investir nessa integração e valorização do nosso estado estará reconstruindo a imagem de Santa Catarina que a cada ano perde notoriedade como referência para o Brasil.

- Estruturar o desenvolvimento turístico através de um fundo de financiamento de empreendimentos, com um planejamento que implique na estruturação eficiente de roteiros específicos e integrados. As particularidades colocam Santa Catarina em primeiro lugar no Brasil em potencial turístico. No norte, em um raio de 100 km, há parque temático – Beto Carrero -, rota da cerveja, produção de cachaça, praias com balneários bem estruturados, gastronomia diversificada, centros de compra, turismo religioso, cidades atraentes, festas, etc. No Sul, em um raio de 150 km Santa Catarina concentra mar, águas termais, serra, canyons, esporte de aventura, gastronomia, turismo religioso, cidade histórica, além de produção de vinho na ligação com o planalto, etc, sem contar com as potencialidades do oeste, planalto norte e região da Grande Florianópolis.
-  Promover estudos técnicos sobre a tendência da economia de Santa Catarina, que perde densidade com a falta de logística em seu desenvolvimento. Nossas indústrias debilitam-se na competitividade e procuram rever suas estratégias de crescimento pensando na facilidade e barateamento do transporte de produtos, motivo pelo qual ocorre a evasão de capital de investimento. Hoje, a grande e a média indústria cedem espaço no contexto de resultados econômico-financeiros para a pequena e micro empresas, que já são as que mais empregam no estado. O governo precisa planejar e investir na projeção de uma economia revitalizada para 2020. Um plano para a economia dos próximos oito anos seria uma grande estratégia de marketing.
Com certeza, o leitor está se perguntando: o que isso tem a ver com o marketing?
O marketing não se resume hoje ao que pensa o marqueteiro. O marketing é equipe interdisciplinar que enxergue e planeje a inovação. O marketing é construção de imagem e to market. Justamente por falta de estratégia de marketing que Santa Catarina vive à deriva, sem rumo. Assim, perde identidade cultural, enfraquece-se em seu processo econômico e já sente a corrosão social, com aumento da violência, problemas nos serviços de saúde, educação, segurança, etc.

As agências de publicidade que atendem ao governo, se não fossem a rixa e hostilidades, deveriam se unir para trabalhar em consórcio numa proposta de marketing integrado, voltado para resultados eficazes nos próximos dois anos.
O marketing pode salvar o governo, sim, alertando-o que só obras regionais não serão suficientes para construir uma boa imagem. Aí, seu Raimundo, se não mudar ficará até difícil convencer o PMDB a apoiá-lo na reeleição. Os secretários regionais não estão nem aí; preferem o feijão com arroz que lhes deve render bons dividendos eleitorais.

FONTE: AcontecendoAqui

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