Por: Tadeu Viapiana
O ano começou mal para o governo federal.
Nos últimos dias de 2012 a equipe econômica concebeu um conjunto de
medidas que a imprensa chamou de “manobras contábeis”,“contabilidade
criativa” e “manipulação contábil”, para aumentar artificialmente o
superávit primário – a diferença entre o que o governo arrecada e gasta,
exceto os juros da dívida.
O superávit primário é um importante indicador, pois revela que o
governo está administrando bem as contas púbicas, gerando a poupança
necessária para pagar os serviços da dívida.
O governo havia prometido obter um superávit fiscal de 3,1% do PIB em
2012. Mas chegou a hora da conta, faltou parte do dinheiro. O governo
decidiu, então, fazer a “macumba” e criar ficticiamente R$ 57 bilhões.
Aliás, o que foi feito agora não é novidade. Em anos anteriores foram
utilizados os mesmos expedientes. Se o Brasil fizesse a conta do
superávit como fazem todos os demais países – incluindo os juros e sem a
sujeira contábil – em 2012 teríamos um déficit equivalente a -3 % do
PIB, exatamente o oposto do resultado da sujeira.
Mas o tiro saiu pela culatra. O que era para ser escondido acabou
revelado em toda a sua inteireza. Os maiores jornais do país fizeram
dezenas de matérias e editoriais revelando a malandragem e apontando as
consequências ruins para o governo e para a economia.
As manobras contábeis não denotam apenas um comportamento técnico e
político reprovável, mas também a fragilidade da gestão das contas
públicas. Hoje, todos os que acompanham a política econômica,
empresários, investidores, economistas, contadores, etc sabem que o
governo não tem controle dos gastos públicos, gasta mais do que deve na
manutenção da máquina pública e investe quase nada.
Como disse a Folha de São Paulo, em um de seus editoriais: o “governo
coloca sob risco um patrimônio da política econômica brasileira
conquistado a duras penas ao longo de duas décadas. Trata-se da
confiança dos agentes privados nas ações e nos compromissos assumidos
pelas autoridades”.
Se o governo, como sempre alega, espera que os empresários nacionais e
estrangeiros realizem investimentos no Brasil, o seu comportamento não
ajuda na formação de um ambiente de previsibilidade e confiança.
A contabilidade suja, ao contrário, reforça ainda mais a percepção de
que a política econômica não é confiável. Que as regras do jogo podem
mudar quando o governo quiser e como quiser. Se tudo pode mudar a toda
hora, como antever o futuro?
Como isso repercute na vida do cidadão comum? De duas formas: a) mostra
que o governo vem gastando mais do que deve no funcionamento de uma
máquina pública que presta poucos e ruins serviços públicos; b) que cedo
ou tarde haverá mais aumento de carga tributária para a sociedade, pois
o aumento das despesas precisa ser coberto por aumento das receitas.
Como tudo sempre pode ficar pior, nas próximas semanas deve sair o
número oficial do PIB de 2012. Ao contrário do que prometeu o ministro
da Fazenda o ano passado inteiro, vai ser um “pibinho”, próximo ou
inferior a 1%.
O Jornal o Estado de São Paulo fez a síntese das “manobras
contábeis” do para criar receitas artificiais, em sua edição de
04/01/2013. Confira:
“1º Operação
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) compra,
usando títulos públicos, ações da Petrobrás que pertenciam ao Fundo
Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE), administrado pelo Banco
do Brasil, onde estão depositados os recursos do Fundo Soberano do
Brasil (FSB). 0 Tesouro Nacional resgata os títulos usados pelo BNDES,
transformando os papéis em dinheiro, e injeta RS 8,847 bilhões no caixa
do governo federal.
2º Operação
O BNDES antecipa o pagamento de mais dividendos para a União. Os
dividendos são pagos também com títulos públicos. Tesouro resgata os
papéis e garante mais R$ 2,317 bilhões para o cofre federal. Para
reforçar o caixa do BNDES, o Ministério da Fazenda antecipa a liberação
de uma parcela de RS 15 bilhões de empréstimo do Tesouro para o banco de
fomento.
3º Operação A Caixa
Econômica Federal antecipa o pagamento de dividendos, usando títulos
públicos que estavam em seu poder. Assim como nas outras operações, o
Tesouro transforma os papéis em dinheiro e engorda o caixa do governo
federal em mais R$ 4,69 bilhões. Para reforçar as contas da Caixa, o
Ministério da Fazenda autoriza aumento de capital do banco estatal de R$
5,4 bilhões.”
O restante dos recursos fictícios neessário vem do “abate” de R$ 25,6 bilhões gastos com obras do PAC.
FONTE: AdOnline
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