quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Crescimento multitelas é o futuro

Por: Fernando Murad

Ainda resistente a entrar no segmento de televisão, Grupo Positivo baseia expansão nas áreas de tablete e telefonia

Hélio Bruck Rotenberg - presidente da Positivo Informática
Hélio Bruck Rotenberg - presidente da Positivo Informática Crédito: Guilherme Pupo - Folhapress

Líder do mercado brasileiro de computadores há sete anos e com participação superior a 13%, de acordo com a IDC Brasil, a Positivo Informática pretende dar um novo salto. Com a entrada na categoria de tablets em 2011 com a marca Ypy e nos segmentos de smartphones (também com Ypy) e de messaging phones (com a marca Positivo) em 2012, a empresa aposta na conquista de espaço junto aos consumidores da classe média e na ampliação da receita anual, que supera a casa dos R$ 2 bilhões. Nesta entrevista, o presidente Hélio Bruck Rotenberg, no posto desde a criação da companhia em 1989 e também comandante do Grupo Positivo desde o ano passado, relembra o início da trajetória da empresa, comenta a importância da ascensão da classe C para o crescimento da Positivo Informática, cita os planos de expansão da operação internacional (hoje restrita ao mercado argentino), conta sobre o trabalho com as ferramentas de publicidade embarcadas nos PCs como o DeskMedia e define o futuro do setor: “a cumulatividade de telas”.


Meio & Mensagem ›› A Positivo Informática ingressou na área de tecnologia para atender à demanda do próprio grupo? Quando a empresa vislumbrou que essa divisão poderia ser um negócio à parte e como foi esse processo?
Hélio Bruck Rotenberg ›› Na realidade não foi bem isso. Criamos a empresa para fornecer computadores para a rede de escolas que o grupo já atendia com material didático, não para uso interno. Começamos a fornecer para as escolas e foi uma coisa curiosa, porque não fomos nós que mudamos de ideia, as escolas que mudaram. A empresa abriu em maio de 1989, o Collor (presidente Fernando Collor de Mello) assumiu no começo de 1990 e congelou as mensalidades escolares. Ao congelar as mensalidades, ficamos sem mercado. Daí, nós começamos a atuar em outras áreas. Para mim, crise sempre representa oportunidade, e as diversas crises que o Brasil já viveu foram oportunidades para conquistarmos novos mercados e lançarmos produtos. Em 2002, por exemplo, vendíamos para o governo e para escolas. O governo parou de comprar no final de 2002 e, ao mesmo tempo, algumas empresas ficaram em dificuldades porque o dólar foi a R$ 4, e ficamos sem entregas para fazer no começo de 2003. Com isso, vislumbramos uma oportunidade que foi entrar no varejo. Essa decisão foi a grande mudança na empresa. Entramos no varejo no final de 2003 e isso representou uma grande mudança de patamar de volume.

M&M ›› Pesquisa e desenvolvimento são fundamentais para inovação em tecnologia. Como a empresa trabalha essa frente? É tudo feito internamente? Tem parceria com institutos no Brasil e no exterior?
Rotenberg ›› Pesquisa e desenvolvimento, para nós, é tudo. Fazemos muita pesquisa e desenvolvimento interno e também trabalhamos com parceiros. Nenhum modelo pode ser seguido como sendo único. Dou como exemplo um divisor de águas para o mercado brasileiro que foi o PCTV, que passou a ser o primeiro computador e a segunda televisão das residências brasileiras. Esse foi um projeto em parte desenvolvido internamente, com as pesquisas de mercado e a conceituação, e parte externamente, com o desenvolvimento da placa de TV. Em 2010 e 2011 foram investidos, respectivamente, R$ 38 milhões e R$ 45,9 milhões em P&D. Entre janeiro e setembro de 2012, os investimentos foram de R$ 39,7 milhões.

M&M ›› Em 2011 a empresa ingressou no segmento de tablets e em 2012 no de telefonia. O que essas novas frentes representam para a sustentabilidade no negócio?
Rotenberg ›› Veja, não há como não entrar. Hoje temos quatro telas, computador, televisão, tablet e celular, e o que as diferencia é onde você as usa. Se você usa no bolso ou no conforto do sofá, essa é a questão. Então é um caminho natural para nós a entrada nesses outros segmentos. Ainda estamos resistentes a entrar no segmento de televisão pela verticalização do mercado. Nas outras telas, entramos em todas. É um caminho natural para a sustentabilidade do negócio. A nossa marca é muito forte na classe média brasileira e não podíamos ficar fora. O PC continua sendo o nosso produto mais vendido porque os outros são novos. Mas não dá para pensar em divisão. Não dá porque você, como consumidor, deve usar quatro telas, ou pelo menos três. Há um acúmulo de telas. A casa tem sempre televisão, tem sempre um computador, e cada pessoa tem um celular e um tablet, e ainda pode ter ou não um computador. É uma cumulatividade de telas. Nenhuma vai deixar de existir em prol da outra. Pelo menos no horizonte finito de tempo que vislumbramos, pois novas formas podem surgir, formas híbridas.

M&M ›› Além de hardwares a companhia desenvolve softwares?
Rotenberg ›› Muito. Tanto na área de tecnologia educacional, na qual somos muito fortes, quanto para os nossos hard­wares. Dentro dos nossos hardwares tem o Positivo Conecta, por exemplo, que conecta os dados do tablet com os do celular e os do computador. Nós temos o Positivo Backup para fazer backup. Temos vários aplicativos desenvolvidos dentro de casa para deixar o computador mais amigável. Temos duas equipes de desenvolvimento, a do Centro de Inovação e a equipe de Convergência Digital, que é onde são feitas nossas lojas: a de livros e a de apps, por exemplo, esse tipo de coisa, que também é software. Temos ainda o portal Mundo Positivo que é sensacional e vai embarcado em todos os nossos computadores.

M&M ›› O público-alvo da empresa é a classe média. Como equilibrar tecnologia e preço num produto para agradar esse consumidor? É possível ter um produto de ponta com preço que caiba no bolso?
Rotenberg ›› Sem dúvida nenhuma. Na verdade não é preço mais acessível. É o preço adequado para aquele produto. Nós não somos mais baratos que outros produtos com as mesmas características. Nós fazemos os produtos com as características que a classe média brasileira quer. Um exemplo que já dei é o PCTV, que juntou as duas coisas. Agora lançamos o computador 3D, lançamos o note­bookTV, o gabinete que muda de face. Esses produtos têm tecnologia de ponta e preço que o consumidor pode pagar. Na área de telefonia lançamos já de cara o nosso celular mais barato com três chips e televisão. São algumas necessidades da população brasileira e estamos aqui o tempo inteiro pesquisando as demandas desse público.

M&M ›› Falando em classe média, muito se falou no fenômeno da classe C e de sua importância para o crescimento da economia brasileira. Qual o peso desse movimento nos resultados da Positivo?
Rotenberg ›› Esse movimento teve um papel muito importante. A penetração do computador na classe C brasileira em 2004 e 2005 era de menos 15%, hoje é de 45%. Fora isso, a classe C brasileira cresceu um monte. Isso tornou o mercado exclusivo e o Brasil, o terceiro maior mercado mundial de computadores e o quarto maior de celulares. O mercado brasileiro se tornou muito importante, e isso foi pelo aumento do poder aquisitivo da classe média brasileira.


Este conteúdo é parte da entrevista publicada na íntegra na edição 1542, de 14 de janeiro, de Meio & Mensagem

FONTE: Meio e Mensagem

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