Luiz Gonzaga só usava lâminas de barbear Gillette, pelo menos é o que se
depreende do filme Gonzaga, de Pai para Filho, do diretor Breno
Silveira.
Nele, sempre que possível, o Lua aparece fazendo a barba com o apetrecho ou tocando sua sanfona sob o patrocínio da marca.
A responsável pela ação é a Africa Rio, agência especializada em
product placement, o nome correto para o que se convencionou chamar pelo
nome errado de merchandising.
A ação confirma a tese do
diretor da agência, Fabio Freitas, durante o Seminário Rio Market no
Festival do Rio de 2012: “Se o cliente quiser impactar três milhões de
espectadores de cinema com uma propaganda tradicional de 30 segundos,
vai precisar anunciar em todas as salas da maior rede brasileira e
desembolsar cerca de R$ 6,6 milhões. Se investir na presença de seu
produto em um filme com potencial para atingir esse público, vai ter o
mesmo impacto com a vantagem da longevidade desse investimento, já que o
mesmo filme ainda será vendido em DVD e depois exibido na TV.” (Filme B
– semana 41 – 08/10/2012 – Edição 777).
Na
época a afirmação chamou atenção dos operadores da mídia cinema por
contrapor instrumentos de comunicação que não são excludentes e podem
atuar de forma complementar, sem o maniqueísmo do bem e do mal ou do
certo e do errado.
A mídia cinema, caracterizada pela inserção
de anúncios de 30”antes da exibição dos trailers, é uma ferramenta
legítima de comunicação das marcas em um ambiente agradável, com
insuperável apuro tecnológico e indiscutível atenção do consumidor.
Sobre os números, cabe lembrar que até outubro desse ano foram vendidos
121 milhões de ingressos, portanto uma média de 12 milhões de ingressos
por mês, ou três milhões de ingressos por semana. Ou seja, o almejado
número de audiência é alcançado a cada semana pelo negócio da propaganda
em cinema no Brasil, enquanto o filme Gonzaga, de Pai para Filho
contabiliza pouco mais de 200 mil tickets a cada sete dias e não deve
ficar em cartaz por muito mais que quatro semanas.
Outra
correção necessária é o fato da mídia cinema faturar, em média, oito
milhões de reais por mês para uma audiência de 12 milhões de ingressos
no mesmo período, o que prova que a previsão de investimento de seis
milhões de reais para atingir três milhões de espectadores é, no mínimo,
equivocada.
É
importante constatar que o diretor Breno Silveira, além do talento para
contar histórias, tem vocação para inserir marcas em suas narrativas,
mesmo que essa aptidão esteja distante da verdade dos fatos.
Assim
como no filme Dois Filhos de Francisco (2005), onde os protagonistas
cantam à frente de uma agência do Bradesco com o novo logotipo anos
antes do seu redesenho, em Gonzaga, de Pai para Filho, o Rei do Baião
decide continuar uma viagem de carro em um posto de abastecimento BR,
mesmo que o fato tenha ocorrido em 1961, dez anos antes da criação da BR
Distribuidora.
Essa
licença poética sobre as marcas ajuda o diretor a pagar a conta dos
filmes e a apagar da mente dos espectadores elementos históricos das
empresas envolvidas. Uma história mal contada, como é o título desse
artigo, não contribui com o processo de consolidação do product
placement no mercado brasileiro.
FONTE: Meio e Mensagem
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