Por: Lígia Fascioni
É triste, é revoltante, é de se indignar.
A East Side Gallery, à beira do rio Spree, um pedaço original de 1,3
km do muro de Berlin, sobrevivente do desmonte e plataforma para 106
artistas do mundo inteiro celebrarem a liberdade, está com sua
integridade física ameaçada. O projeto, de 1990, é considerado a maior
galeria de arte a céu aberto do mundo.
Na verdade, era.
Uma incorporadora resolveu construir um condomínio de luxo bem atrás
do muro (com vista para o rio) e simplesmente vai derrubar 23 metros
dele. As autoridades fingiram-se de mortas, os artistas sequer foram
avisados e as máquinas invadiram o local dia primeiro de março,
sexta-feira. Uma grande manifestação aconteceu no local e os moradores
não se conformam (não é para menos).
Chega a ser surreal de tão absurdo; um patrimônio da humanidade, um
museu tão importante ser desrespeitado dessa maneira. Estamos,
infelizmente, meio que acostumados com comportamentos assim no Brasil,
mas, pelo jeito, “a força da grana que ergue e destrói coisas belas” é
inexorável em qualquer lugar do mundo. Daqui a pouco alguém vai dizer
que o Portão de Brandemburgo está ocupando uma área nobre e pedir para
derrubá-lo também. Só falta.
Hoje foram 6 mil pessoas protestar contra tal barbaridade; estive lá e
constatei: os policiais, que deviam estar a postos para proteger essa
herança cultural, estão servindo de leões de chácara para a tal
empreiteira para garantir a destruição sem a interferência de
manifestantes. Olha, é de dar vergonha mesmo.
Bem escreveu um jornalista do Der Tagesspiegel: isso é o resultado da atuação de empreiteiros grandes e políticos pequenos.
Políticos minúsculos, eu diria.
Bom, passei a tarde de sábado documentando todas as obras, uma a uma,
pois não sei por quanto tempo ainda continuarão lá. É um prato cheio
para criativos, mas é também minha contribuição para as pessoas se darem
conta do que estão jogando fora…
Para visitar a galeria pelos meus olhos, vá ao álbum no Flickr clicando aqui.
E chore.
FONTE: AcontecendoAqui
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