Por: André Porto Alegre
De tempos em tempos (mais do que ano sim, ano não) visito a Bienal de
Artes de São Paulo para confirmar minha tese de que “quem viu uma
bienal, viu todas”.
A tese tem um Q de ignorância proposital,
necessária no contexto em que qualquer bobagem assume importância
desproporcional. Agora mesmo todos nós brasileiros engordamos o cofrinho
de um ex-jogador de futebol que sem propõe a emagrecer na frente das
câmeras e chamamos isso de superação.
A Trigésima Bienal de
Artes de São Paulo decepciona. É exatamente o que não se espera dela. Um
conjunto de propostas pessoais que transformam o visitante, na maioria
do percurso, em um passivo espectador.
Visito
a Bienal à procura de referências para aplicá-las na minha vida
profissional ou em sala de aula, portanto estou ávido por aquilo que me
encanta, me impressiona, me desafia ou me enoja.
A sexagenária
bienal não me fez de bobo porque eu não entendi suas propostas, e sim
porque ela não tem propostas, nem aquelas que provocam a nossa ira, o
nosso ódio. Há uma dissociação entre os artistas, suas propostas e o
público, esse último, sempre generoso, à procura de uma surpresa que,
depois da cansativa visita, descobre que não existe.
Parece
que tudo já está resolvido sob o manto da sensibilidade exclusiva do
artista. Ele se basta e não resta nada para quem visita a exposição. O
que é incompreensível aos olhos dos mortais assim o é não como
conseqüência das experiências do autor levadas às ultimas conseqüências e
depois compartilhadas com a platéia, custe o que custar, é
voluntariosamente preparada para não provocar nenhuma emoção.
A
trigésima bienal reproduz o ambiente das redes sociais onde o difusor
cospe conteúdos desconexos alheios à audiência generosamente chamada de
“amigos”, as emoções são comoditizadas e se limitam às fotos e o cúmulo
de apropriação da mensagem é uma expressão que em português tem
significado asséptico, curtir.
A bienal tinha oportunidade de
falar e preferiu ficar calada e assim permanecerá até o ano da Copa em
que, como todos sabemos, tudo será melhor e, porque não, mais magro.
FONTE: Meio e Mensagem
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