Por: Philippe Bertrand
O mundo corporativo tem visto o surgimento de novos modelos econômicos
baseados no open source. O software livre, o crowdfunding, sites de
"compartilhamento de conteúdos" reinventado o mercado de música e vídeo
etc. Modelos criados a partir de comunidades engajadas, que partem do
princípio que "people share" e geram inovação através de 'inteligência
coletiva'. Justamente por isso, não são em nada um fenômeno passageiro.
Compreender esses modelos pressupõe conhecer seus códigos. E uma boa
maneira de fazê-lo é buscando na origem o princípio do “código aberto” -
que por sinal tem o Brasil como um dos protagonistas do seu debate e
valorização. O open source funciona
como método criativo e de produção revolucionário, que se implantou em
nosso sistema de maneira pacífica, evolutiva e poderosa.
Tudo
começou porque um grupo de programadores (considerados heróis no mundo
da tecnologia) se revoltaram contra a política fechada de softwares
caros x pirataria como única alternativa. Decidiram tomar uma
iniciativa: vamos criar o nosso próprio software. E ao invés de proibir
sua reprodução ou distribuição pirata, vamos fazer um software hippie,
grátis, com código aberto para que qualquer um possa hackea-lo e assim
convidamos as pessoas a ajudar a melhorá-lo.
Inicialmente,
esses softwares eram bem piores que as plataformas oficiais (que contam
com muito investimento e equipes bem remuneradas). Mas, subitamente, as
pessoas começaram a usá-los, e a gastar horas e horas para hackeá-los,
melhorá-los e colaborar com o seu desenvolvimento. Em menos de 15 anos,
surgiu na web uma infinidade de software livres – alguns melhores que os
oficiais – destinados a tudo que você possa precisar de tecnologia (de
OpenOffice à programação hard core). Plataformas grátis, em constante
melhoria, e com um diferencial muito estratégico: uma comunidade
engajada por trás delas.
Se uma pessoa decide aprender a programar em software livre – como o popular processing,
que já permite programar diretamente para Java, JavaScript e Android
com o mesmo código - vai encontrar não apenas uma infinidade de
tutoriais na Internet. Vai encontrar fóruns oficiais do software onde
encontramos desenvolvedores que ensinam, corrigem códigos, criam
livrarias de códigos prontos para fazer copy/paste e respondem a todo
tipo de dúvida (das mais idiotas às mais complexas). Gente que se dedica
a isso grátis. Porque nesse sistema, a evolução depende das dúvidas,
aprendizado e crescimento de sua comunidade. Daí nascem novos usuários e
novos colaboradores.
Tá, mas como eles ganham dinheiro?
O que inicialmente funcionava a partir do princípio de doação e
“sentir-se parte de um movimento” vem transformando-se em uma nova
ciência: 'open source economics' que estuda e desenvolve novos modelos
econômicos a partir de princípios radicalmente diferentes, em que a
propriedade intelectual é aberta . Uma dinâmica econômica que está
expandindo-se para além da indústria do software e que tem
características bastante peculiares, como lista Yochai Benkler:
• Autoridade descentralizada: você não precisa perguntar se pode
contribuir, compartilhar ou inovar. Tudo está aberto a qualquer
colaboração.
• Novos modelos de concorrência que entram por
barreiras até então desconhecias (Linux x Windows, p2p x indústria da
música e video, Wikipedia x enciclopédias, skype x telecom etc).
•
Produção criativa social (inteligência coletiva): não só para criar
videos colaborativos, mas utilizada até cientificamente - inclusive
pela Nasa que contou com a colaboração de internautas para mapear
superfície de Marte e obteve resultados precisos e mais rápidos que com
seu grupo de PHDs.
E como implementar sistemas tão radicais no mundo corporativo?
A comunicação 2.0 tem induzido naturalmente esse processo. Um bom
exemplo disso são os projetos de comunicação colaborativa ou os
gexperimentos Betag– que deram origem a clássicos como Whopper
Sacrifice. Outro bom exemplo é o case Connecting Lifelines da Honda que mostra como uma marca pode colaborar com a vida das pessoas, e não apenas comunicar.
Do ponto de vista de uma marca – que em última instância oferece um
produto e/ou serviços para a vida da pessoa - é justamente dentro do
princípio de colaborar com a vida das pessoas que me parece interessante
pensar na filosofia Open Source. E é nessa premissa que creio existirem
as melhores oportunidades de inovar e criar novos modelos econômicos
colaborativos e open source. Projetos que podem ser feitos através de
ferramentas de comunicação, mas oferecem muito mais do que comunicar.
FONTE: Meio e Mensagem
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