quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Notícia espetáculo e a ética da assessoria

Por: Sara Caprario

Uma situação de emergência ou uma tragédia como a ocorrida em Santa Maria (RS) gera naturalmente um desencontro de informações e uma busca incessante do furo de reportagem ou do ineditismo ao abordar um detalhe do fato. Na era do compartilhamento, todos viram repórteres nas redes sociais, mas sem filtro, sem cuidado e em muitos casos sem responsabilidade inclusive com a fragilidade da situação de centenas de famílias.
Nesse fato trágico, para competir com esse mar de informações, as maiores redes de comunicação enviaram três, quatro e até mesmo cinco equipes de jornalismo para a cidade que fez parar o resto do noticiário. Os âncoras foram para frente do local do incêndio e fizeram intervenções ao vivo, entrevistas insólitas e buscaram personagens ainda atônitos.
Como jornalistas aprendemos que o fato vira notícia quando surpreende ou quando sai do comum. E é claro que o incêndio é algo extremamente comovente, ainda mais por envolver gente jovem, universitários, enfim, uma parcela da população que poderia transformar o futuro. No entanto, a cobertura demasiada pode atrapalhar as investigações, coibir momentos de privacidade das famílias das vítimas ou apressar procedimentos que poderiam ser feitos com mais eficácia e perfeccionismo.
Como assessores de imprensa podemos colaborar com situações de emergência ao oferecer subsídios técnicos, informações de fontes especializadas ou dados coerentes. Isso quando estamos fora do centro do problema e de longe é possível perceber as demandas racionalmente. Mas há um limite tênue entre essa colaboração e o aproveitamento de espaços a todo custo.
Em 2008, com a enchente terrível que assolou Santa Catarina, incitamos os clientes a fazer sua parte com doações de serviços ou produtos. Antes mesmo de discutirmos o assunto, muitos pediram para não divulgar o ato voluntário.
Agora, com o incêndio na cidade gaúcha, infelizmente foi possível perceber a corrida em aparecer de alguma forma. E aqui fica a dica: na hora de orientar um cliente sobre esse tipo de ação, coloque em primeiro lugar o impacto que uma notícia pode gerar para os envolvidos. Ajuda? Atrapalha? Seja emocional por alguns instantes e volte à racionalidade, esse exercício permite nos mostrar até onde podemos ir sem interferir no processo.

FONTE: Acontecendo Aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário