Por: Eduardo Axelrud
Você está numa reunião. O atendimento relata que o cliente não aprovou o
anúncio e que da próxima vez precisamos ser mais assertivos. Como
bomEduardo Axelrud é vice-presidente de criação da Competence
redator, o domínio que você tem da sua língua materna permite que você
entenda essa frase com o significado correto da palavra “assertivo”: ser
mais afirmativo, mais claro, mais firme, mais enfático. Ter mais
assertividade. Uma palavra pouco usada, que remete a provas que você
fazia no colégio, onde se pedia que você distinguisse com F ou V as
assertivas falsas das assertivas verdadeiras.
Na verdade, o uso
desse termo até surpreende você positivamente em relação ao emissor.
Legal quando o atendimento usa uma palavra mais culta, querendo
provavelmente dizer que precisamos usar na campanha uma linguagem mais
direta. Mas no dia seguinte você está numa reunião com outro grupo, e
alguém parabeniza o financeiro pela assertividade das previsões
orçamentárias. E no fim do dia, ao avaliar a performance da agência em
prospecções no último semestre, alguém parabeniza: ganhamos 5 contas,
isso significa que estamos com um alto índice de assertividade das
propostas.
E aí, cai a ficha.
Essas pessoas não estão
falando na assertividade do Aurélio. Elas estão falando de algo que na
cabeça delas provavelmente está escrito com “c”. Acertividade. A
capacidade que alguém ou algo tem de acertar. Só que essa palavra não
existe. “Acertivo” não é uma palavra certa. Apesar das pessoas se
encherem de razão e serem tão assertivas quando ficam repetindo esse
termo o dia inteiro.
E aí, o que você faz? Corrige o interlocutor a
cada vez que você escuta, e corre o risco de passar por chato? Faz um
texto no blog de um importante veículo denunciando o mau uso da língua
mãe e passa por mais chato ainda?
Talvez a melhor saída seja
perceber que quando essas palavras surgem de repente e passam a ser
usadas massivamente, é porque elas vem a calhar. Elas cobrem um furo da
língua. Uma necessidade de expressar algo que as pessoas precisam, mas
que não encontram amparo no vocabulário do dia-a-dia. Junto com uma
predileção das pessoas por falarem difícil. Parece ser mais bonito e
polido dizer que “temos que ser mais acertivos”, do que dizer que
“estamos errando pra dedéu”.
Assim foi com “a nível de”. Assim
foi com “No caso, seria” (preferida por 10 entre 10 balconistas, que
adoram dizer que “no caso, isso seria com o gerente”). E assim foi com o
gerundismo, que daqui a pouco vai estar passando a completar quase uma
década de vida. Da mesma maneira que as modas, as gírias e os memes,
essas invenções da língua popular são uma praga. Surgem não se sabe de
onde, e preenchem um espaço vago no repertório do povo. E justamente por
isso, pegam. E de um jeito que você não tem outra saída senão, no
mínimo, se resignar a uma convivência pacífica. Quer saber? Daqui a
pouco isso passa. E espero estar sendo bem acertivo nessa minha
previsão.
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